Mais uma vez pendurado.
Pendurado do lado de fora;
do lado daqueles que não entrarão;
do lado daqueles que nem sequer se esforçaram;
do lado dos que fracassaram.
Mais um ano sem tempo.
Dediquei-o apenas pra ter a oportunidade de jogá-lo no lixo.
Estou mais uma vez aqui.
Barrado por alguns pontos.
Surrado por ter sido tão infantil.
Mais uma vez traído.
Traído pelo meu descontrole;
Pela confiança e luta que se deixaram levar pelo medo.
Medo de quê?
Medo de vencer?
E aquele cara forte que arrebentava a mão
na parede do banheiro e que jurava que ia vencer?
Esse cara.
.
Esse cara me abandonou na porta daquela sala.
Esse cara ficou em casa esperando-me chegar com boas notícias.
Agora ele está aqui dentro me perguntando o que deu errado.
E eu nem consigo olhar pra cara dele.
É, Fabrício.
Avise-me quando for homem o bastante
pra ultrapassar a Primeira Fase da sua vida.
Seu fraco.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Diálogo Taciturno
Ei, lembra da maçã?
(...)
Como não?
É aquela que eu quase esqueci encima da carteira e que depois fiquei com dó de comê-la de tão linda e avermelhada que era.
Lembrou agora?
(...)
Pois então, de fato eu não a comi.
Agora, o porquê eu não sei.
E olha que eu cheguei a tirá-la do plástiquinho.
Foi por pouco mesmo.
Ela escapou fedendo.
Tudo bem, pode até ser um desrespeito aos que têm fome, mas e se ela for uma daquelas que envenenou a Branca de Neve?
Pior. E se for uma daquelas que a Serpente empurrou à Eva?
Não sei se estou fazendo bem em não tocá-la, sabia?
Bom, se bem que ela está com uma cara ótima.
Nossa! Já dá água na boca só de pensar.
Já imaginou em cada pedaço que amassa com doce no canto boca?
Hum! Que doce.
É...
Ela está aqui ao meu lado a fazer-me companhia (com H) e a refletir a luz que sai da lâmpada amarelada do meu quarto.
Têm vezes que parece que ela me intimida, viu?
Parece que quer uma explicação pra todas essas e aquelas palavras.
E depois dá a crer que não quer saber mais de palavra nenhuma.
Tudo bem que eu também não ando agindo lá essas coisas.
Não sei o que acontece.
Esse reflexo todo me intimida duma maneira que eu não consigo olhá-la diretamente e agir como se tudo estivesse normal.
Mas isso é coisa da minha cabeça.
Sem contar que também...
Ei, maçã?
Você ainda está aí?
Maçã?
(...)
Como não?
É aquela que eu quase esqueci encima da carteira e que depois fiquei com dó de comê-la de tão linda e avermelhada que era.
Lembrou agora?
(...)
Pois então, de fato eu não a comi.
Agora, o porquê eu não sei.
E olha que eu cheguei a tirá-la do plástiquinho.
Foi por pouco mesmo.
Ela escapou fedendo.
Tudo bem, pode até ser um desrespeito aos que têm fome, mas e se ela for uma daquelas que envenenou a Branca de Neve?
Pior. E se for uma daquelas que a Serpente empurrou à Eva?
Não sei se estou fazendo bem em não tocá-la, sabia?
Bom, se bem que ela está com uma cara ótima.
Nossa! Já dá água na boca só de pensar.
Já imaginou em cada pedaço que amassa com doce no canto boca?
Hum! Que doce.
É...
Ela está aqui ao meu lado a fazer-me companhia (com H) e a refletir a luz que sai da lâmpada amarelada do meu quarto.
Têm vezes que parece que ela me intimida, viu?
Parece que quer uma explicação pra todas essas e aquelas palavras.
E depois dá a crer que não quer saber mais de palavra nenhuma.
Tudo bem que eu também não ando agindo lá essas coisas.
Não sei o que acontece.
Esse reflexo todo me intimida duma maneira que eu não consigo olhá-la diretamente e agir como se tudo estivesse normal.
Mas isso é coisa da minha cabeça.
Sem contar que também...
Ei, maçã?
Você ainda está aí?
Maçã?
domingo, 14 de setembro de 2008
O Mistério do Chá
Não há nada mais misterioso do que aquele olhar.
Acho meio terrorista da minha parte porque isso as vezes toma conta da minha cabeça.
Quando eu fecho os olhos, quando vejo algum reflexo no espelho do ônibus (e não há nada mais morrântico do que um ônibus), na fumaça do chá preto (que é o meu predileto), e até nos minutinhos pré-sono, é que o esbranquiçado daqueles dentes e aqueles lábios pouco tocados, me seduzem com o ar mais Iracemístico que o Zé de Alencar poderia tentar traduzir com todas as suas melhores personificações.
Leitora, sabe aquele olhar lindíssimo?
Justo aquele que vem acompanhado de um sorriso capaz de fazer covinha nas partes mais inesperadas da bochecha esquerda?
Então, é esse sorriso que me puxa pra dentro daquele mundo tão enigmático que mistura a vontade de tudo com o medo nada; com a vontade de nada e o medo de tudo.
Ah, mas aqueles olhares perdidos em meio a Células Epiteliais e Matrizes Inversas.
Um tentando fugir do outro, com aquela coisa de que ninguém pode perceber.
Sem contar os sorrisos de canto de boca; aliás, sorrisos esses que riem sem saber por quê.
Que loucura meu Deus.
Que loucura.
Vou tomar meu chá antes de dormir.
Ah! E é chá preto, viu?
Esse é o meu predileto.
O Mistério do Chá continua sem me dar nenhuma pista além de sorrisos escondidos.
Se é que eles querem dizer alguma coisa.
Acho meio terrorista da minha parte porque isso as vezes toma conta da minha cabeça.
Quando eu fecho os olhos, quando vejo algum reflexo no espelho do ônibus (e não há nada mais morrântico do que um ônibus), na fumaça do chá preto (que é o meu predileto), e até nos minutinhos pré-sono, é que o esbranquiçado daqueles dentes e aqueles lábios pouco tocados, me seduzem com o ar mais Iracemístico que o Zé de Alencar poderia tentar traduzir com todas as suas melhores personificações.
Leitora, sabe aquele olhar lindíssimo?
Justo aquele que vem acompanhado de um sorriso capaz de fazer covinha nas partes mais inesperadas da bochecha esquerda?
Então, é esse sorriso que me puxa pra dentro daquele mundo tão enigmático que mistura a vontade de tudo com o medo nada; com a vontade de nada e o medo de tudo.
Ah, mas aqueles olhares perdidos em meio a Células Epiteliais e Matrizes Inversas.
Um tentando fugir do outro, com aquela coisa de que ninguém pode perceber.
Sem contar os sorrisos de canto de boca; aliás, sorrisos esses que riem sem saber por quê.
Que loucura meu Deus.
Que loucura.
Vou tomar meu chá antes de dormir.
Ah! E é chá preto, viu?
Esse é o meu predileto.
O Mistério do Chá continua sem me dar nenhuma pista além de sorrisos escondidos.
Se é que eles querem dizer alguma coisa.
domingo, 17 de agosto de 2008
O Psicográfico
Sim.
As pessoas enjoam-se da outras.
Se tu fizeres aquele feliz, ele será feliz.
Se fores sensato, a recíproca será verdadeira.
Caso contrário, e assim não ocorrendo: cada um pro seu lado e boa.
Boa sorte.
Não.
Nem sempre é assim.
Na verdade é assim quando não há amor.
Quando os sorrisos não duram mais que um segundo.
Um sorriso. É isso: faltava um sorriso.
Bem.
Esse texto não quer ser escrito, mas a psicografia toma conta do resto.
Um dia de sábado como qualquer outro; a diferença dos demais era que acabara de romper um relacionamento afetivo e de fazer uma prova de História e Química.
Foi no ônibus.
Ele estava bebaço.
Era engraçado no começo. Disse que só havia tomado uma.
Sim, ele só havia tomado uma: garrafa de pinga.
Eu sempre rio dos bêbados; o álcool parece que dá às pessoas uma pitada de Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo.
Ele me perguntou se usava drogas.
- Não, senhor. E nunca hei de usar. Respondi.
- Tens amigos que usam? Retrucou.
- Sim. Uma porção; mas a primeira vez que me ofereceram disse que não o fizessem novamente.
As lágrimas foram muitas. Tomaram conta dele e de mim.
Apesar de não entender o porquê, confesso que meus olhos umedeceram.
Disse-me que tinha um filho de quinze anos que se encontra internado numa clínica para reabilitação de usuários de droga.
Chorava, indagava por qual motivo o garoto poderia causar-lhe tanta vergonha, como aquele menino poderia traí-lo dessa forma.
Foi uma tristeza muito grande que tomou meu coração.
Eu chorei muito por dentro. Chorei mesmo.
Disse o que pude.
Disse pra ele não beber.
Não seria exemplo pro garoto que ele chegasse alcoolizado em casa.
Agradeceu-me como pôde.
Fiquei muito grato por isso.
Chegou o ponto em que eu deveria descer.
- Vá com Deus senhor. Desejo-lhe sorte com seu filho; dará tudo certo.
Quando eu estava no banho. (o banho sempre me arranca boas idéias)
Lembrei que ele me dissera que mesmo assim nunca iria abandonar o filho.
Aqueles eram os olhos dele, a cor dele, o sorriso dele.
Era como se abandonasse a si mesmo.
Um amor tão grande tomou meu coração.
Senti uma vontade enorme de amar naquele instante.
Dei-me um abraço muito forte.
Aproveitei e cocei minhas costas.
Só não me vi no “box” porque o vapor ofuscara minha imagem.
Tive vontade de olhar para mim.
Passei a mão no vidro e consegui ver meu rosto.
Olha lá: eram meus olhos, a minha cor, o meu riso.
Não havia sorriso. Só riso.
Aquele homem me deu um pouquinho de esperança.
Nós não podemos nos abandonar.
São nossos olhos, somos nós.
São as nossas emoções.
São os nossos corações.
As pessoas enjoam-se da outras.
Se tu fizeres aquele feliz, ele será feliz.
Se fores sensato, a recíproca será verdadeira.
Caso contrário, e assim não ocorrendo: cada um pro seu lado e boa.
Boa sorte.
Não.
Nem sempre é assim.
Na verdade é assim quando não há amor.
Quando os sorrisos não duram mais que um segundo.
Um sorriso. É isso: faltava um sorriso.
Bem.
Esse texto não quer ser escrito, mas a psicografia toma conta do resto.
Um dia de sábado como qualquer outro; a diferença dos demais era que acabara de romper um relacionamento afetivo e de fazer uma prova de História e Química.
Foi no ônibus.
Ele estava bebaço.
Era engraçado no começo. Disse que só havia tomado uma.
Sim, ele só havia tomado uma: garrafa de pinga.
Eu sempre rio dos bêbados; o álcool parece que dá às pessoas uma pitada de Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo.
Ele me perguntou se usava drogas.
- Não, senhor. E nunca hei de usar. Respondi.
- Tens amigos que usam? Retrucou.
- Sim. Uma porção; mas a primeira vez que me ofereceram disse que não o fizessem novamente.
As lágrimas foram muitas. Tomaram conta dele e de mim.
Apesar de não entender o porquê, confesso que meus olhos umedeceram.
Disse-me que tinha um filho de quinze anos que se encontra internado numa clínica para reabilitação de usuários de droga.
Chorava, indagava por qual motivo o garoto poderia causar-lhe tanta vergonha, como aquele menino poderia traí-lo dessa forma.
Foi uma tristeza muito grande que tomou meu coração.
Eu chorei muito por dentro. Chorei mesmo.
Disse o que pude.
Disse pra ele não beber.
Não seria exemplo pro garoto que ele chegasse alcoolizado em casa.
Agradeceu-me como pôde.
Fiquei muito grato por isso.
Chegou o ponto em que eu deveria descer.
- Vá com Deus senhor. Desejo-lhe sorte com seu filho; dará tudo certo.
Quando eu estava no banho. (o banho sempre me arranca boas idéias)
Lembrei que ele me dissera que mesmo assim nunca iria abandonar o filho.
Aqueles eram os olhos dele, a cor dele, o sorriso dele.
Era como se abandonasse a si mesmo.
Um amor tão grande tomou meu coração.
Senti uma vontade enorme de amar naquele instante.
Dei-me um abraço muito forte.
Aproveitei e cocei minhas costas.
Só não me vi no “box” porque o vapor ofuscara minha imagem.
Tive vontade de olhar para mim.
Passei a mão no vidro e consegui ver meu rosto.
Olha lá: eram meus olhos, a minha cor, o meu riso.
Não havia sorriso. Só riso.
Aquele homem me deu um pouquinho de esperança.
Nós não podemos nos abandonar.
São nossos olhos, somos nós.
São as nossas emoções.
São os nossos corações.
segunda-feira, 28 de julho de 2008
pre-Fá-cio
Pois é.
Diz a lenda que eu nasci no dia 28 de julho do ano de 1989, às 13 horas.
Papai me olhava do vidro da incubadora como se fosse o seu primeiro filho; sempre mantendo aquele olhar carinhoso e observador de quem diz:
- “Olha lá! Essas orelhas são minhas.”
Mamãe repousara na cama do hospital para se recuperar da luta para me dar à luz. Não fora fácil pra ela tirar aquele gordinho cabeçudo, chorão e amarelo por parto normal. Coitadinha dela.
Meus irmãos esperavam ansiosos a cegonha chegar com o mais novo irmãozinho, e prontos para serem esquecidos por pelo menos alguns anos até que eu fosse mimado por inteiro.
Meu berço e meu lençol de leãozinho também aguardavam a minha chegada, apreensivos. Mas não tiveram a ventura de me ver.
Era um dia chuvoso de inverno.
Minha ida para casa era incerta, pois a coloração amarelada da minha pele e o brancura excessiva dos meus olhos não eram por acaso. Estava com icterícia. Tive que passar mais algumas horas no hospital.
Agradeço a Deus até hoje pelo fato do médico não ter me liberado. Não que eu tenha gostado do hospital, mas é que nesse mesmo dia aconteceu o que ninguém esperava.
A chuva ardia e os ventos tossiam incessantemente.
Ao lado da minha casa há, e já havia naquele tempo, um extenso jardim com coqueiros, pés-de-limão e uma porção de espadas de São Jorge. Hoje já não há mais o pé-de-abacate que havia antes daquele dia.
Ele não existe mais porque a tempestade daquela noite o derrubara. Não só o derrubara como o direcionara ao que era pra ser meu o berço.
O abacateiro cedeu arrastando fios, telhados e madeiras até que seu tronco deu com meu o lençol de leãozinho. Ele acabou com o meu primeiro bem material e com o quarto dos meus pais.
Um dia, uma velha vizinha, aquela que todos têm medo, me parou na rua e disse:
- É garoto, era pra você e seus pais terem morrido aquele dia.
De fato não havia ninguém na casa; todos estavam no hospital a espreitar a minha melhora. Mas depois de saberem do ocorrido, meus pais ficaram muito felizes por essa árvore ter caído num dia e num horário convenientes.
Passaram-se dezenove anos.
Agora, depois de ter escapado da árvore assassina e de ter sonhado em ser jogador de basquete, cá estou com meus novos sonhos.
Eu não sei quem quero ser. Não sei o que quero ser. Mas serei.
Não sei se é economia, jornalismo, geografia, história ou literatura, mas a coisa que me dá mais prazer é tocar violão e cantarolar cantigas antigas.
Ouço Chico Buarque e João Gilberto na minha nova vitrola velha.
Leio Vinicius de Moraes e Manuel Bandeira e tento dar uma de poeta.
Leio Fernando Sabino e dou uma de cronista.
Faço bolinhos de chuva sabor maçã e banana.
Não tenho tempo pra jogar basquete e tenho preguiça de andar de bicicleta e levar a minha cachorra pra passear.
Amo meus pais e toda a simplicidade deles. Tenho neles, juntamente com meus irmãos, meus exemplos de determinação e superação.
Sinto calafrios por uma garota que tem a língua presa mais linda do mundo e que é quase, eu disse quase, do meu tamanho.
O cara que eu considero meu melhor amigo se chama Gabriel Mendes e eu amo muito esse cara e a sua família. Ele é quem ri comigo das nossas baboseiras intelectuais e dos nossos comentários maldosos sobre a vida alheia. É o único que viaja nos sons como eu.
Conheci nesses últimos anos pessoas maravilhosas. Batalhadoras que lutam pelo mesmo objetivo que eu. Aprendi e aprendo muito com elas.
Apesar disso tudo,
Eu não sei quem quero ser.
Não sei o que quero ser.
Mas meus sonhos me carregam nos braços.
Minha responsabilidade me livra de abacateiros que venham cair na minha cabeça.
Minha fé em mim me assopra em direção aos meus objetivos.
Hoje choro sozinho, mas não é de tristeza.
Meu choro é de saudade.
Saudade do futuro que hei de ver.
Saudade do que ainda hei de ser.
Diz a lenda que eu nasci no dia 28 de julho do ano de 1989, às 13 horas.
Papai me olhava do vidro da incubadora como se fosse o seu primeiro filho; sempre mantendo aquele olhar carinhoso e observador de quem diz:
- “Olha lá! Essas orelhas são minhas.”
Mamãe repousara na cama do hospital para se recuperar da luta para me dar à luz. Não fora fácil pra ela tirar aquele gordinho cabeçudo, chorão e amarelo por parto normal. Coitadinha dela.
Meus irmãos esperavam ansiosos a cegonha chegar com o mais novo irmãozinho, e prontos para serem esquecidos por pelo menos alguns anos até que eu fosse mimado por inteiro.
Meu berço e meu lençol de leãozinho também aguardavam a minha chegada, apreensivos. Mas não tiveram a ventura de me ver.
Era um dia chuvoso de inverno.
Minha ida para casa era incerta, pois a coloração amarelada da minha pele e o brancura excessiva dos meus olhos não eram por acaso. Estava com icterícia. Tive que passar mais algumas horas no hospital.
Agradeço a Deus até hoje pelo fato do médico não ter me liberado. Não que eu tenha gostado do hospital, mas é que nesse mesmo dia aconteceu o que ninguém esperava.
A chuva ardia e os ventos tossiam incessantemente.
Ao lado da minha casa há, e já havia naquele tempo, um extenso jardim com coqueiros, pés-de-limão e uma porção de espadas de São Jorge. Hoje já não há mais o pé-de-abacate que havia antes daquele dia.
Ele não existe mais porque a tempestade daquela noite o derrubara. Não só o derrubara como o direcionara ao que era pra ser meu o berço.
O abacateiro cedeu arrastando fios, telhados e madeiras até que seu tronco deu com meu o lençol de leãozinho. Ele acabou com o meu primeiro bem material e com o quarto dos meus pais.
Um dia, uma velha vizinha, aquela que todos têm medo, me parou na rua e disse:
- É garoto, era pra você e seus pais terem morrido aquele dia.
De fato não havia ninguém na casa; todos estavam no hospital a espreitar a minha melhora. Mas depois de saberem do ocorrido, meus pais ficaram muito felizes por essa árvore ter caído num dia e num horário convenientes.
Passaram-se dezenove anos.
Agora, depois de ter escapado da árvore assassina e de ter sonhado em ser jogador de basquete, cá estou com meus novos sonhos.
Eu não sei quem quero ser. Não sei o que quero ser. Mas serei.
Não sei se é economia, jornalismo, geografia, história ou literatura, mas a coisa que me dá mais prazer é tocar violão e cantarolar cantigas antigas.
Ouço Chico Buarque e João Gilberto na minha nova vitrola velha.
Leio Vinicius de Moraes e Manuel Bandeira e tento dar uma de poeta.
Leio Fernando Sabino e dou uma de cronista.
Faço bolinhos de chuva sabor maçã e banana.
Não tenho tempo pra jogar basquete e tenho preguiça de andar de bicicleta e levar a minha cachorra pra passear.
Amo meus pais e toda a simplicidade deles. Tenho neles, juntamente com meus irmãos, meus exemplos de determinação e superação.
Sinto calafrios por uma garota que tem a língua presa mais linda do mundo e que é quase, eu disse quase, do meu tamanho.
O cara que eu considero meu melhor amigo se chama Gabriel Mendes e eu amo muito esse cara e a sua família. Ele é quem ri comigo das nossas baboseiras intelectuais e dos nossos comentários maldosos sobre a vida alheia. É o único que viaja nos sons como eu.
Conheci nesses últimos anos pessoas maravilhosas. Batalhadoras que lutam pelo mesmo objetivo que eu. Aprendi e aprendo muito com elas.
Apesar disso tudo,
Eu não sei quem quero ser.
Não sei o que quero ser.
Mas meus sonhos me carregam nos braços.
Minha responsabilidade me livra de abacateiros que venham cair na minha cabeça.
Minha fé em mim me assopra em direção aos meus objetivos.
Hoje choro sozinho, mas não é de tristeza.
Meu choro é de saudade.
Saudade do futuro que hei de ver.
Saudade do que ainda hei de ser.
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Sorrateiramente
Ela se chamava Camila; não lembro o sobrenome.
Era, até então, o amor da minha vida.
Tudo bem, não era lá essas coisas, mas tinha um sorriso encantador e respondia a todas as perguntas que a professora fazia.
E eu?
Era virgem até de orelha.
Estava na terceira série e o máximo que eu sabia de uma mulher era que elas tinham que usar uma negócio branco entre as pernas não-sei-pra-que.
Tinha acabado de chegar da minha temporada em Fortaleza.
Estava com a barriga bem saliente; fruto da dieta de hambúrguer e suco de caju que meu irmão colocara à minha disposição durante seis meses.
Apesar de ser um cabaço assíduo, eu tinha a tática infalível:
Para que a garota não percebesse que eu passava o dia inteiro olhando pra ela, eu cobria o rosto com as mãos e, por entre as frestas dos dedos, espiava-a a aula inteirinha. Sorrateiramente.
Ela nunca descobriu. Talvez nem desconfiasse de tal façanha.
Eu, pra ser sincero, tinha certeza que ela me achava um gordinho sem graça.
Sei lá. Pode até ser que ela me achasse “profundo demais”; vai saber.
Hoje eu voltei a me sentir assim.
Estranho, porque não é fácil se pegar com oito anos de idade.
É triste saber que eu ainda espreito a garota como na terceira série.
Enfim.
Não sei se isso é o pior de tudo,
Mas uma coisa é fato: é deprimente saber que eu ainda sou virgem de orelha.
Era, até então, o amor da minha vida.
Tudo bem, não era lá essas coisas, mas tinha um sorriso encantador e respondia a todas as perguntas que a professora fazia.
E eu?
Era virgem até de orelha.
Estava na terceira série e o máximo que eu sabia de uma mulher era que elas tinham que usar uma negócio branco entre as pernas não-sei-pra-que.
Tinha acabado de chegar da minha temporada em Fortaleza.
Estava com a barriga bem saliente; fruto da dieta de hambúrguer e suco de caju que meu irmão colocara à minha disposição durante seis meses.
Apesar de ser um cabaço assíduo, eu tinha a tática infalível:
Para que a garota não percebesse que eu passava o dia inteiro olhando pra ela, eu cobria o rosto com as mãos e, por entre as frestas dos dedos, espiava-a a aula inteirinha. Sorrateiramente.
Ela nunca descobriu. Talvez nem desconfiasse de tal façanha.
Eu, pra ser sincero, tinha certeza que ela me achava um gordinho sem graça.
Sei lá. Pode até ser que ela me achasse “profundo demais”; vai saber.
Hoje eu voltei a me sentir assim.
Estranho, porque não é fácil se pegar com oito anos de idade.
É triste saber que eu ainda espreito a garota como na terceira série.
Enfim.
Não sei se isso é o pior de tudo,
Mas uma coisa é fato: é deprimente saber que eu ainda sou virgem de orelha.
domingo, 15 de junho de 2008
De fora pra dentro
Procuro motivos pra conseguir entender porque eu tenho passado esses últimos dias feliz. Isso é muito estranho porque há um erro na ordem das coisas. Geralmente, o caminho é o contrário: primeiro é preciso encontrar motivos pra ser feliz, e não ser feliz pra depois encontrar motivos.
Quem me vê andando por aí com feição feliz e sorridente deve achar que eu sou daqueles que acorda e diz bom dia pro passarinho, que ri até das piadas do Faustão ou que passa horas escutando Tiririca. Bom, pensando bem, tirando o escutar Tiririca eu sou um pouquinho disso aí.
As vezes eu pareço meio maluco, principalmente no ônibus. Eu canto alto; canto mesmo. Tudo bem, não tão alto assim, mas a pessoa do lado consegue escutar um som vindo da minha boca que soa algo como: “Não solta da minha mão, não solta da minha mão”, “Apesar de você amanhã há de ser outro dia” ou “Florentina, Florentina, Florentina de Gesuis”. Não. Esse último não.
Pensando bem, eu acho que o motivo disso tudo é que quando me encontro sozinho, ou seja, sem nenhum relacionamento amoroso, eu pareço ser mais feliz. Não que eu não seja quando estou acompanhado, mas o fato de eu olhar mais pra mim, para as minhas atitudes e para o meu nariz, me deixa bem. Na maioria das vezes, quando se está com alguém (ou afim) é muito comum observar o que a outra pessoa anda fazendo, quem está deixando recados na página do Orkut dela ou qual vai ser a atividade do final de semana. Nesse movimento totalmente natural e inconsciente é comum a pessoa esquecer-se dela mesma, não lembrar das suas prioridade e até mesmo deixar seu antigos discos de lado.
Digo isso porque essa semana voltei a escutar uma das bandas que fazem parte do eu costumo chamar de repertório do sono vespertino. Sim, vespertino. É que quando a minha vida era boa, em meados da oitava série, eu voltava do colégio e dormia a tarde inteirinha; bons tempos aqueles. Pois bem, a banda se chama Smashing Pumpkins. O som é ótimo; os agudos baixinhos do vocalista são maravilhosos e muito bons pra dormir. Uma delícia.
Bom, voltando ao assunto da felicidade. Eu ainda não sei por que estou feliz. Talvez seja por conta do caso libanês (de dois textos abaixo) ter "saído" minha da cabeça; ou pelo fato de eu ter chegado em casa ontem e a minha nova amiga, a Chiquinha (minha vitrola), estar arrumada e pronta pra tocar os meus novos discos; ou porque achei o simulado de ontem fácil. Não sei. Nem venha me perguntar, pois ainda não encontrei a resposta.
Mas quer saber? Estou achando isso tudo uma merda. Acho mesmo que me falta alguém. Minha vida anda muito certinha, sem brigas e desentendimentos; talvez falte um pouco disso, mesmo que sobre felicidade nesse momento.
Eu preciso de alguém pra reparar a maquiagem, pra mandar mensagens, pra dar ritmo, pra escrever poemas, pra ter ciúmes, pra cantar pra ela, pra chorar por ela e o melhor: pra dividir a minha felicidade com ela. Porque, afinal, é um porre ser feliz sozinho.
Quem me vê andando por aí com feição feliz e sorridente deve achar que eu sou daqueles que acorda e diz bom dia pro passarinho, que ri até das piadas do Faustão ou que passa horas escutando Tiririca. Bom, pensando bem, tirando o escutar Tiririca eu sou um pouquinho disso aí.
As vezes eu pareço meio maluco, principalmente no ônibus. Eu canto alto; canto mesmo. Tudo bem, não tão alto assim, mas a pessoa do lado consegue escutar um som vindo da minha boca que soa algo como: “Não solta da minha mão, não solta da minha mão”, “Apesar de você amanhã há de ser outro dia” ou “Florentina, Florentina, Florentina de Gesuis”. Não. Esse último não.
Pensando bem, eu acho que o motivo disso tudo é que quando me encontro sozinho, ou seja, sem nenhum relacionamento amoroso, eu pareço ser mais feliz. Não que eu não seja quando estou acompanhado, mas o fato de eu olhar mais pra mim, para as minhas atitudes e para o meu nariz, me deixa bem. Na maioria das vezes, quando se está com alguém (ou afim) é muito comum observar o que a outra pessoa anda fazendo, quem está deixando recados na página do Orkut dela ou qual vai ser a atividade do final de semana. Nesse movimento totalmente natural e inconsciente é comum a pessoa esquecer-se dela mesma, não lembrar das suas prioridade e até mesmo deixar seu antigos discos de lado.
Digo isso porque essa semana voltei a escutar uma das bandas que fazem parte do eu costumo chamar de repertório do sono vespertino. Sim, vespertino. É que quando a minha vida era boa, em meados da oitava série, eu voltava do colégio e dormia a tarde inteirinha; bons tempos aqueles. Pois bem, a banda se chama Smashing Pumpkins. O som é ótimo; os agudos baixinhos do vocalista são maravilhosos e muito bons pra dormir. Uma delícia.
Bom, voltando ao assunto da felicidade. Eu ainda não sei por que estou feliz. Talvez seja por conta do caso libanês (de dois textos abaixo) ter "saído" minha da cabeça; ou pelo fato de eu ter chegado em casa ontem e a minha nova amiga, a Chiquinha (minha vitrola), estar arrumada e pronta pra tocar os meus novos discos; ou porque achei o simulado de ontem fácil. Não sei. Nem venha me perguntar, pois ainda não encontrei a resposta.
Mas quer saber? Estou achando isso tudo uma merda. Acho mesmo que me falta alguém. Minha vida anda muito certinha, sem brigas e desentendimentos; talvez falte um pouco disso, mesmo que sobre felicidade nesse momento.
Eu preciso de alguém pra reparar a maquiagem, pra mandar mensagens, pra dar ritmo, pra escrever poemas, pra ter ciúmes, pra cantar pra ela, pra chorar por ela e o melhor: pra dividir a minha felicidade com ela. Porque, afinal, é um porre ser feliz sozinho.
sábado, 24 de maio de 2008
Ser ou não ser? Eis a questão.
Andar pelas proximidades da Avenida Paulista às vésperas da Parada Gay é uma oportunidade ímpar. Por alguns instantes eu me senti na “Gaylândia”. A Rua Frei Caneca (mundialmente conhecida como Gay Caneca; tadinho do Frei) parecia a Village People Avenue. Não que eu seja simpatizante da causa, tampouco preconceituoso em relação a ela (logo entenderão porque), mas eu achei as coisas que vi hoje dignas de merecerem um texto.
Eram casais de homens que andavam pela rua de mãos dadas e trocando carícias, casais femininos que se beijavam; todos sem nenhuma preocupação, com ar de quem não deve nada a ninguém (não devem mesmo) e de quem não está nem aí com o que os outros pensam. Aliás, reparei também os outros: senhoras e senhores de idade com aquelas pomposas e enrugadas caras de “meu Deus, mais que absurdo” ou “onde esse mundo irá chegar?”. Diverti-me muito com isso.
A cena que mais me chamou atenção foi um cidadão cujo traje restringia-se a uma sunga-fio-dental-rosa que fazia flexões de braço no meio da calçada, enquanto seu companheiro lhe passava óleo nas costas e batia na sua bunda com uma raquete de frescobol (hahahahahaha). Calma! Antes que você pense que isso é verdade e acabe concordando com os velhinhos que não sabem onde esse mundo irá chegar, eu vos digo, caro leitor, toda essa cena é mentira. Mas pensando bem, seria muito engraçada de ser vista.
Eu acho legal comentar esse tipo de assunto, porque, pasme: mesmo com toda essa minha macheza à flor da pele e essa inigualável masculinidade, tem gente que acha que eu sou boiola. Sério Mesmo. Desde a primeira vez que um amigo meu (Vandré) disse que antes de me conhecer jurava de pés juntos que eu era uma bichona, eu fiquei com isso na cabeça. Vira-e-mexe eu me pego a reparar as minhas atitudes com a intenção de achar algo que me comprometa ou que confira a mim um toque de viadagem.
Nessa busca incessante por características que, eventualmente, poderiam comprometer a minha masculinidade, eu achei as seguintes: eu tenho muitas amigas mulheres (fato); eu reparo a maquiagem, o cabelo e as roupas das garotas (sou apenas um mero observador); eu sento com as pernas cruzadas (eu não tenho as bolas tão grandes a ponto de impedir tal movimento); e, por final: eu choro (e homem chora, nem vem com história).
Engraçado. Quando eu estava procurando algumas idéias pra escrever sobre assunto, lembrei-me de uma coisa que aconteceu comigo essa semana.
Peguei o ônibus pra ir pra casa e, por coincidência, um amigo de um amigo meu (Guilherme Campbell, que eu conheci a pouco e que é muito gente fina) entrou com a sua namorada no coletivo. Ele faz o mesmo cursinho que eu, com a diferença que ele estuda em outra unidade. Enfim, conversávamos sobre as matérias, simulados e professores do cursinho; aquele papo de vestibulando maluco.
Nessa conversa ele me falou que ela era uma “porta” em humanas, mas era muito bom em exatas. E como eu sou um humanórdico, comecei a dizer a eles os benefícios e os prazeres que a História, Geografia e Literatura proporcionam; falei também os motivos que me fazem gostar de Música Popular Brasileira, a genialidade dos artistas e tudo mais, quando ele me interrompe com a seguinte pergunta: - VOCÊ É GAY? Eu, como já estou acostumado com esse tipo de coisa, fui cauteloso e expliquei a ele que gostar de música, letras e poesias não significa ser viado, mas sim um apreciador das coisas pequenas e irrisórias.
Isso tudo não foi uma tentativa de falar pra vocês se eu sou uma frutinha ou não, de fato não sou. Quem me conhece sabe disso. Mas, meu amigo, se você ainda não consegue respeitar a opção sexual das pessoas, desculpe-me, você ainda está nos tempos antes de Cristo. E outra, quem sabe, você ainda terá filhos, sobrinhos, etc. Pense nisso.
Passar bem.
obs: só uma outra coisa rápida, meu blog fez agora (dia 17) um ano de idade, parabéns pra ele.
Eram casais de homens que andavam pela rua de mãos dadas e trocando carícias, casais femininos que se beijavam; todos sem nenhuma preocupação, com ar de quem não deve nada a ninguém (não devem mesmo) e de quem não está nem aí com o que os outros pensam. Aliás, reparei também os outros: senhoras e senhores de idade com aquelas pomposas e enrugadas caras de “meu Deus, mais que absurdo” ou “onde esse mundo irá chegar?”. Diverti-me muito com isso.
A cena que mais me chamou atenção foi um cidadão cujo traje restringia-se a uma sunga-fio-dental-rosa que fazia flexões de braço no meio da calçada, enquanto seu companheiro lhe passava óleo nas costas e batia na sua bunda com uma raquete de frescobol (hahahahahaha). Calma! Antes que você pense que isso é verdade e acabe concordando com os velhinhos que não sabem onde esse mundo irá chegar, eu vos digo, caro leitor, toda essa cena é mentira. Mas pensando bem, seria muito engraçada de ser vista.
Eu acho legal comentar esse tipo de assunto, porque, pasme: mesmo com toda essa minha macheza à flor da pele e essa inigualável masculinidade, tem gente que acha que eu sou boiola. Sério Mesmo. Desde a primeira vez que um amigo meu (Vandré) disse que antes de me conhecer jurava de pés juntos que eu era uma bichona, eu fiquei com isso na cabeça. Vira-e-mexe eu me pego a reparar as minhas atitudes com a intenção de achar algo que me comprometa ou que confira a mim um toque de viadagem.
Nessa busca incessante por características que, eventualmente, poderiam comprometer a minha masculinidade, eu achei as seguintes: eu tenho muitas amigas mulheres (fato); eu reparo a maquiagem, o cabelo e as roupas das garotas (sou apenas um mero observador); eu sento com as pernas cruzadas (eu não tenho as bolas tão grandes a ponto de impedir tal movimento); e, por final: eu choro (e homem chora, nem vem com história).
Engraçado. Quando eu estava procurando algumas idéias pra escrever sobre assunto, lembrei-me de uma coisa que aconteceu comigo essa semana.
Peguei o ônibus pra ir pra casa e, por coincidência, um amigo de um amigo meu (Guilherme Campbell, que eu conheci a pouco e que é muito gente fina) entrou com a sua namorada no coletivo. Ele faz o mesmo cursinho que eu, com a diferença que ele estuda em outra unidade. Enfim, conversávamos sobre as matérias, simulados e professores do cursinho; aquele papo de vestibulando maluco.
Nessa conversa ele me falou que ela era uma “porta” em humanas, mas era muito bom em exatas. E como eu sou um humanórdico, comecei a dizer a eles os benefícios e os prazeres que a História, Geografia e Literatura proporcionam; falei também os motivos que me fazem gostar de Música Popular Brasileira, a genialidade dos artistas e tudo mais, quando ele me interrompe com a seguinte pergunta: - VOCÊ É GAY? Eu, como já estou acostumado com esse tipo de coisa, fui cauteloso e expliquei a ele que gostar de música, letras e poesias não significa ser viado, mas sim um apreciador das coisas pequenas e irrisórias.
Isso tudo não foi uma tentativa de falar pra vocês se eu sou uma frutinha ou não, de fato não sou. Quem me conhece sabe disso. Mas, meu amigo, se você ainda não consegue respeitar a opção sexual das pessoas, desculpe-me, você ainda está nos tempos antes de Cristo. E outra, quem sabe, você ainda terá filhos, sobrinhos, etc. Pense nisso.
Passar bem.
obs: só uma outra coisa rápida, meu blog fez agora (dia 17) um ano de idade, parabéns pra ele.
domingo, 11 de maio de 2008
Dia das Mães
Quando eu ando um pouco sensibilizado com algo, sei lá, seja algum desentendimento em casa, por alguma nota baixa no simulado ou por algum amor não correspondido, eu me emociono por qualquer coisa.
Essas semanas que agregaram os últimos dias de abril e os primeiros de maio ocorreu (e ainda ocorre) o que eu costumo chamar de amplitude térmica amorosa. Em outras palavras, o fato é que em poucos dias eu me apeguei muito a uma garota, sendo, nos primeiros, a recíproca verdadeira; mas acontece que nos últimos as coisas têm mudado bastante. Resumindo: ela sumiu (como sempre acontece) e quando aparece “seus olhos não brilham mais”. Mas acho melhor já ir me acostumando com isso, pois pelo que parece, isso não irá mudar.
Juntando esse pranto silencioso ao desespero de um vestibulando, eu tenho passado esses dias muito mal e melancólico, escutando músicas com melodias tristes e letras mais ainda. De todo jeito eu tento disfarçar com um sorriso todo esse sentimento que costuma nos pôr pra baixo. Mas enfim...
Hoje de manhã, quando voltava da casa de um amigão meu, depois de ter dormido lá porque ocorrera seu aniversário no dia anterior, peguei o trem na estação do Jaraguá sentido Luz. Pensava em chegar logo em casa pra abraçar a dona Neuma e desejá-la um feliz dia das mães e pegar o meu celular (que tinha esquecido) pra ver se não tinha nenhuma mensagem do Líbano.
Pois bem, enquanto a “lata de sardinha” oferecida pelo nosso querido Estado que se preocupa muito com o bem-estar do povão que mora nas sub-periferias da cidade de São Paulo deslizava pelos trilhos, passou um rapaz que aparentava ter uns vinte anos de idade; sem uma das pernas e a outra defeituosa. Estava sendo empurrado numa cadeira de rodas pelo vagão a fora por outro cara e entregava pedaços de papel que, escrito neles, palavras pediam uma contribuição de dez centavos. Peguei um deles,o li, abri minha carteira e apanhei algumas moedas.
Junto a mim, um senhor bem acabado, mal vestido, com uma cara sofrida e surrada pela vida, também separou algumas moedas, e bem graúdas por sinal. Na volta, o pedinte passou recolhendo as contribuições. Tomou a minha, agradeceu-me e foi de encontro ao senhor citado. Este abriu um sorriso àquele e deu o dinheiro com o peito cheio de ar e alegria. Eu, vendo aquilo, não agüentei a emoção e comecei a chorar baixinho, só pra mim, dando, portanto, sentido às minhas palavras do primeiro parágrafo desse texto.
Refleti uns segundos. Achei aquilo tão lindo, grandioso, magnífico e honroso que eu quase levantei e fui dar um abraço naquele homem. Pensei logo nas pessoas que são culpadas pelo caos social no nosso país, que jorram moedas e dólares pelos orifícios dos seus corpos e que não teriam a bondade e compreensão que teve esse senhor. Tenho quase certeza que esse dinheiro ia fazer falta a ele, mas iria fazer muito bem ao rapaz da cadeira de rodas, e ele pensou nisso. Disso tudo eu cheguei à conclusão que agente precisa ter um pouco mais de amor e compaixão pelas pessoas, sermos menos individualistas e pararmos de tratar as pessoas como se elas fossem descartáveis.
Após o ocorrido, parei de ler as crônicas libanesas, apanhei minha lapiseira 0.7, minha borracha suja e comecei a escrever esse texto. Desci na estação de Osasco com ele semi-pronto, esperei alguns minutos o Bigode chegar. Concluí mais algumas coisas no carro. Chegando em casa, fui ao vizinho, apanhei algumas flores, depois fui até à mamãe, entreguei-lhe as flores, dei um abração carinhoso, choroso e agradecido por tudo. Corri direto pro quarto, peguei o celular: não tinha nenhuma mensagem. Senti-me um pedinte que não recebe esmolas. Terminei o texto, terminou o meu dia.
Frase do dia: “O amor não prospera em corações que se amedrontam com as sombras.” (William Shakespeare)
Essas semanas que agregaram os últimos dias de abril e os primeiros de maio ocorreu (e ainda ocorre) o que eu costumo chamar de amplitude térmica amorosa. Em outras palavras, o fato é que em poucos dias eu me apeguei muito a uma garota, sendo, nos primeiros, a recíproca verdadeira; mas acontece que nos últimos as coisas têm mudado bastante. Resumindo: ela sumiu (como sempre acontece) e quando aparece “seus olhos não brilham mais”. Mas acho melhor já ir me acostumando com isso, pois pelo que parece, isso não irá mudar.
Juntando esse pranto silencioso ao desespero de um vestibulando, eu tenho passado esses dias muito mal e melancólico, escutando músicas com melodias tristes e letras mais ainda. De todo jeito eu tento disfarçar com um sorriso todo esse sentimento que costuma nos pôr pra baixo. Mas enfim...
Hoje de manhã, quando voltava da casa de um amigão meu, depois de ter dormido lá porque ocorrera seu aniversário no dia anterior, peguei o trem na estação do Jaraguá sentido Luz. Pensava em chegar logo em casa pra abraçar a dona Neuma e desejá-la um feliz dia das mães e pegar o meu celular (que tinha esquecido) pra ver se não tinha nenhuma mensagem do Líbano.
Pois bem, enquanto a “lata de sardinha” oferecida pelo nosso querido Estado que se preocupa muito com o bem-estar do povão que mora nas sub-periferias da cidade de São Paulo deslizava pelos trilhos, passou um rapaz que aparentava ter uns vinte anos de idade; sem uma das pernas e a outra defeituosa. Estava sendo empurrado numa cadeira de rodas pelo vagão a fora por outro cara e entregava pedaços de papel que, escrito neles, palavras pediam uma contribuição de dez centavos. Peguei um deles,o li, abri minha carteira e apanhei algumas moedas.
Junto a mim, um senhor bem acabado, mal vestido, com uma cara sofrida e surrada pela vida, também separou algumas moedas, e bem graúdas por sinal. Na volta, o pedinte passou recolhendo as contribuições. Tomou a minha, agradeceu-me e foi de encontro ao senhor citado. Este abriu um sorriso àquele e deu o dinheiro com o peito cheio de ar e alegria. Eu, vendo aquilo, não agüentei a emoção e comecei a chorar baixinho, só pra mim, dando, portanto, sentido às minhas palavras do primeiro parágrafo desse texto.
Refleti uns segundos. Achei aquilo tão lindo, grandioso, magnífico e honroso que eu quase levantei e fui dar um abraço naquele homem. Pensei logo nas pessoas que são culpadas pelo caos social no nosso país, que jorram moedas e dólares pelos orifícios dos seus corpos e que não teriam a bondade e compreensão que teve esse senhor. Tenho quase certeza que esse dinheiro ia fazer falta a ele, mas iria fazer muito bem ao rapaz da cadeira de rodas, e ele pensou nisso. Disso tudo eu cheguei à conclusão que agente precisa ter um pouco mais de amor e compaixão pelas pessoas, sermos menos individualistas e pararmos de tratar as pessoas como se elas fossem descartáveis.
Após o ocorrido, parei de ler as crônicas libanesas, apanhei minha lapiseira 0.7, minha borracha suja e comecei a escrever esse texto. Desci na estação de Osasco com ele semi-pronto, esperei alguns minutos o Bigode chegar. Concluí mais algumas coisas no carro. Chegando em casa, fui ao vizinho, apanhei algumas flores, depois fui até à mamãe, entreguei-lhe as flores, dei um abração carinhoso, choroso e agradecido por tudo. Corri direto pro quarto, peguei o celular: não tinha nenhuma mensagem. Senti-me um pedinte que não recebe esmolas. Terminei o texto, terminou o meu dia.
Frase do dia: “O amor não prospera em corações que se amedrontam com as sombras.” (William Shakespeare)
terça-feira, 4 de março de 2008
Queridos e Poucos Amigos
Eu sou um cara de poucos amigos; tal quantidade dá pra contar nos dedos (de uma mão). Não sei se isso é bom ou ruim, mas tenho certeza que com eles posso contar de verdade, assim como podem contar comigo também. Talvez isso não acontecesse se eu tivesse um monte e não mantivesse uma amizade próxima, sadia e sincera como a que eu tenho com algumas pessoas que estão do meu lado e são testemunhas do meu desenvolvimento e da minha vida.
Muitos ficaram pra trás; alguns por causa do tempo, do distanciamento, alguns pelo simples fato das idéias não se encontrarem mais, ou porque escolheram tipos de diversões que não me convêm. Outros nunca foram meus amigos de verdade, não passaram de companheiros durante algum tempo, mas é desses que as vezes eu sinto falta. É mais ou menos como aquela frase do Fernando Pessoa: "O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem".
Na segunda série, quando eu tinha sete anos de idade, estudei no Colégio Nossa Senhora da Misericórdia, em Fortaleza. Minha família mudara para a cidade na tentativa de montar um negócio, sendo assim, moramos uma temporada por lá. Como minha mãe viu que as expectativas não eram das melhores, voltou depois de seis meses, mas meu irmão mais velho (Guga) resolveu ficar e levar a sua vida. Como eu ainda não tinha terminado a série, “enchi o saco” da mama pra ficar com meu irmão até terminar o ano. Depois de muita insistência, a coroa cedeu.
Bom, eu nada mais era do que um extraterrestre. Isso tudo porque eu tinha os cabelos longos, falava feio (sotaque paulisssssta, como eles diziam) e era o filho do gigante (apelido dado por causa dos dois metros do meu irmão). Passei muita raiva e fui muito zoado aquele ano, a ponto de voltar pra casa chorando quase todos os dias. Comovido com a minha situação, um garoto moreno e de olhos verdes, cuja única semelhança comigo era o fato também ser debochado pelos demais alunos; mas no caso dele era por conta dos quilinhos a mais que tinha. Certo dia sentou-se ao meu lado e tornou-se meu amigo inseparável.
Chamava-se, ou ainda se chama (assim espero), Claudinei (vulgo Claudéco). Ele morava na frente da praça principal onde tinha umas mangueiras enormes (mangueiras = pés de manga, para os mais espertinhos); sempre me chamava pra jogarmos bila (bolinha de gude) e para comer a maravilhosa tapioca doce que a mãe dele fazia. As vezes, quando meu irmão estava em casa, chamava-o para comer caju do pé - no quintal - jogar futebol, ver a vizinha tomar banho e jogar pedra nas vacas que o vizinho dos fundos tinha no seu pasto improvisado. Era muito boa a nossa amizade; ela completava um pouco a ausência dos meus pais e superava a hostilidade que sofria dos demais alunos da escola. Depois que voltei pra São Paulo, o encontrei duas vezes quando fui visitar meu irmão, tinha entre doze e catorze anos. Após isso, nunca mais o vi, mas ainda o guardo na lembrança.
A última experiência que tive como esta faz alguns meses. Foi em meados de setembro e outubro do ano passado, só que dessa vez não foi um amigo: foi uma amiga. Ela chama-se A.S.F, mora perto da minha casa e fazia cursinho na minha sala, inclusive, falei com ela hoje pra marcar de pegar um livro e um DVD que estão com ela. Talvez esse episódio tenha me impulsionado a escrever esse texto. Mas enfim.
Eu sempre comentava com meus colegas de classe o quanto eu “pagava um pau pra ela”. Ressaltava algumas de suas belezas, como o seu estilo, seus cachos dourados a fio, seu sorriso tímido, mas nunca tive coragem de conversar com ela, nem um oizinho. O que mais me incomodava era que um bobão da sala, daqueles que não consegue falar com nenhuma mulher, conversava com ela na boa; isso me incomodava muitíssimo.
Um dia eu tomei coragem e disse: - Vamô lá Gabi?
Mas é claro que eu não ia lá sozinho; “nem a pau” - do jeito que eu sou bunda mole - se não fosse ela pra me encorajar, eu não ia nunca. Mas fui, ou melhor, fomos. Conversamos o intervalo inteiro e foi aí que eu vi como o bobão conseguia conversar com ela, tamanha era a sua simpatia e serenidade.
Depois, durante um mês e pouco, não nos largamos mais. Conversava-mos toda tarde ao telefone, estudava-mos juntos aqui em casa, as vezes eu ia na casa dela também, e foi aí que eu comecei a sentir algo a mais (aquele que sempre acontece) do que só amizade. Aconteceram algumas coisas nesse tempo, mas isso não vem ao caso. Num dado momento ela resolveu se afastar, ficou distante, enfim, não era a mesma pessoa, na verdade era, só que ainda não conhecia esse seu lado.
Hoje o nosso relacionamento é bem superficial (uma pena). Sempre passo com a minha cachorra na frente da casa dela, mas nunca a encontro, não que essa seja a intenção, mas bem que poderia encontrá-la de vez em quando. Penso nela sempre que posso; ainda a considero uma pessoa muito importante e especial, apesar dos pesares e dos penares.
Pois é. É assim que perdemos pessoas que poderiam ser nossos amigos pra sempre. Pessoas que têm os mesmos ideais, os mesmos sonhos e os mesmos gostos, e, por um simples acontecimento, ou por egoísmo de alguma das partes, essa amizade se perde no meio do caminho. O problema é quando, por esse e por outros motivos, nos afastamos de nós mesmos, sendo pessoas que não somos e tomando atitudes que não tomamos. De tudo isso, o importante é saber que amizades são para sempre, nós, não.
Muitos ficaram pra trás; alguns por causa do tempo, do distanciamento, alguns pelo simples fato das idéias não se encontrarem mais, ou porque escolheram tipos de diversões que não me convêm. Outros nunca foram meus amigos de verdade, não passaram de companheiros durante algum tempo, mas é desses que as vezes eu sinto falta. É mais ou menos como aquela frase do Fernando Pessoa: "O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem".
Na segunda série, quando eu tinha sete anos de idade, estudei no Colégio Nossa Senhora da Misericórdia, em Fortaleza. Minha família mudara para a cidade na tentativa de montar um negócio, sendo assim, moramos uma temporada por lá. Como minha mãe viu que as expectativas não eram das melhores, voltou depois de seis meses, mas meu irmão mais velho (Guga) resolveu ficar e levar a sua vida. Como eu ainda não tinha terminado a série, “enchi o saco” da mama pra ficar com meu irmão até terminar o ano. Depois de muita insistência, a coroa cedeu.
Bom, eu nada mais era do que um extraterrestre. Isso tudo porque eu tinha os cabelos longos, falava feio (sotaque paulisssssta, como eles diziam) e era o filho do gigante (apelido dado por causa dos dois metros do meu irmão). Passei muita raiva e fui muito zoado aquele ano, a ponto de voltar pra casa chorando quase todos os dias. Comovido com a minha situação, um garoto moreno e de olhos verdes, cuja única semelhança comigo era o fato também ser debochado pelos demais alunos; mas no caso dele era por conta dos quilinhos a mais que tinha. Certo dia sentou-se ao meu lado e tornou-se meu amigo inseparável.
Chamava-se, ou ainda se chama (assim espero), Claudinei (vulgo Claudéco). Ele morava na frente da praça principal onde tinha umas mangueiras enormes (mangueiras = pés de manga, para os mais espertinhos); sempre me chamava pra jogarmos bila (bolinha de gude) e para comer a maravilhosa tapioca doce que a mãe dele fazia. As vezes, quando meu irmão estava em casa, chamava-o para comer caju do pé - no quintal - jogar futebol, ver a vizinha tomar banho e jogar pedra nas vacas que o vizinho dos fundos tinha no seu pasto improvisado. Era muito boa a nossa amizade; ela completava um pouco a ausência dos meus pais e superava a hostilidade que sofria dos demais alunos da escola. Depois que voltei pra São Paulo, o encontrei duas vezes quando fui visitar meu irmão, tinha entre doze e catorze anos. Após isso, nunca mais o vi, mas ainda o guardo na lembrança.
A última experiência que tive como esta faz alguns meses. Foi em meados de setembro e outubro do ano passado, só que dessa vez não foi um amigo: foi uma amiga. Ela chama-se A.S.F, mora perto da minha casa e fazia cursinho na minha sala, inclusive, falei com ela hoje pra marcar de pegar um livro e um DVD que estão com ela. Talvez esse episódio tenha me impulsionado a escrever esse texto. Mas enfim.
Eu sempre comentava com meus colegas de classe o quanto eu “pagava um pau pra ela”. Ressaltava algumas de suas belezas, como o seu estilo, seus cachos dourados a fio, seu sorriso tímido, mas nunca tive coragem de conversar com ela, nem um oizinho. O que mais me incomodava era que um bobão da sala, daqueles que não consegue falar com nenhuma mulher, conversava com ela na boa; isso me incomodava muitíssimo.
Um dia eu tomei coragem e disse: - Vamô lá Gabi?
Mas é claro que eu não ia lá sozinho; “nem a pau” - do jeito que eu sou bunda mole - se não fosse ela pra me encorajar, eu não ia nunca. Mas fui, ou melhor, fomos. Conversamos o intervalo inteiro e foi aí que eu vi como o bobão conseguia conversar com ela, tamanha era a sua simpatia e serenidade.
Depois, durante um mês e pouco, não nos largamos mais. Conversava-mos toda tarde ao telefone, estudava-mos juntos aqui em casa, as vezes eu ia na casa dela também, e foi aí que eu comecei a sentir algo a mais (aquele que sempre acontece) do que só amizade. Aconteceram algumas coisas nesse tempo, mas isso não vem ao caso. Num dado momento ela resolveu se afastar, ficou distante, enfim, não era a mesma pessoa, na verdade era, só que ainda não conhecia esse seu lado.
Hoje o nosso relacionamento é bem superficial (uma pena). Sempre passo com a minha cachorra na frente da casa dela, mas nunca a encontro, não que essa seja a intenção, mas bem que poderia encontrá-la de vez em quando. Penso nela sempre que posso; ainda a considero uma pessoa muito importante e especial, apesar dos pesares e dos penares.
Pois é. É assim que perdemos pessoas que poderiam ser nossos amigos pra sempre. Pessoas que têm os mesmos ideais, os mesmos sonhos e os mesmos gostos, e, por um simples acontecimento, ou por egoísmo de alguma das partes, essa amizade se perde no meio do caminho. O problema é quando, por esse e por outros motivos, nos afastamos de nós mesmos, sendo pessoas que não somos e tomando atitudes que não tomamos. De tudo isso, o importante é saber que amizades são para sempre, nós, não.
domingo, 2 de março de 2008
Boletim de Ocorrência
Era mais ou menos nove e meia da noite do dia primeiro de março.
Eu estava chegando ao ponto de ônibus no bairro da Lapa e percebi que a praça onde param os coletivos estava vazia e as poucas pessoas que se encontravam ali pareciam bem apreensivas.
Enquanto estava sentado no banco esperando o motorista chegar pra seguirmos viajem, apareceu um homem sem camisa, de bermuda vermelha, cabelo bagunçado, com os cotovelos sangrando, encarando todos que estavam na fila.
O motorista chegou para acalmá-lo, pois o cidadão estava bem agitado. Este se sentiu ameaçado e correu atrás daquele com um abridor de coco nas mãos, rua a fora. Foi aí que a minha aventura começou naquela noite de sábado.
Eu fiquei assustadíssimo; não estava entendendo nada. Pessoas gritavam, algumas mulheres choravam; ninguém tinha o que fazer.
- Liga pra polícia, pelo amor de Deus. Gritava uma senhora de bolsa preta e cabelo pixaim. O homem hostil não conseguiu pegar o motorista e voltou para a praça.
Pessoas corriam pra todos os lados para fugir dele e eu não fiz diferente. Enfiei-me dentro do ônibus junto com um rapaz de jeito afeminado que gritava de medo e tentei fechar a porta, mas a maldita não fechou.
Eu ainda, sem entender nada, fiquei olhando de dentro toda a movimentação dos populares que morriam de pavor com toda fúria daquele rapaz.
Ele veio em direção à porta do ônibus e me olhou nos olhos, fiz o mesmo e percebi que estava chorando e com o olho machucado, não parecia que queria me atacar.
Ainda olhando pra mim, desabafou com as seguintes palavras: - Eu tenho quatro filhos que passam fome. Eu trabalhei o dia inteiro pra aquele f.d.p. vim me desrespeitar desse jeito. Cadê ele? Cadê ele? Eu vou matar esse cara. E correu para a praça.
Eu olhei para o fundo do coletivo e percebi que tinha um homem deitado no chão que parecia se esconder; não se movimentava. Além disso, vi que dois vidros estavam quebrados. Logo imaginei que ocorrera uma briga antes de eu chegar ali.
Algumas pessoas que o conheciam tentavam acalma-lo, mas o homem não largava o abridor. Enquanto isso, quase todos tentavam ligar para a polícia, mas não passavam da mensagem automática. Poucos minutos depois chegou uma viatura com dois policiais e o motorista que fugira a pouco do maluco.
Os homens apontaram suas armar em direção ao individuo, mas ele não se entregou. Foram chegando mais perto e um deles descarregou um chute na barriga e o cujo caiu. Algemaram-no e o colocaram na viatura com sopapos na nuca.
Eu fui até um dos policias e avisei que havia um homem deitado no ônibus, imóvel. Quando entrou, dirigiu-se em direção da vítima e o acordou, pois este estava desmaiado. O homem levantou. Era um senhor, aparentava uns 41 anos. Era mal cuidado, usava uma roupa bem simples e uma bota de operário. Fiquei com dó. Ainda atordoado, perguntou para o policial onde estava a sacola dele. Depois apareceram com ela; tinha apenas umas mudas de roupa e um pedaço de papelão velho.
Enquanto isso, nos arredores da viatura, um senhor que se dizia amigo do baderneiro que já estava na “gaiola”, tentava tirar o rapaz dizendo que ele era inocente. O policial perdeu a calma, pôs as algemas nele e colocou-o para fazer companhia ao seu amigo.
Quando tudo se acalmou, perguntei para a senhora de bolsa preta o que acontecera antes da minha chegada. Ela disse que tudo começou quando os dois estavam no bar bebendo cachaça e num dado momento começaram a discutir. A briga foi se acentuando e foram aos trancos e barrancos (literalmente, pois estavam bêbados) até o ponto na praça dando porrada um no outro. O homem que estava caio dentro do ônibus estava batendo no louco de bermuda vermelha até que este foi ajudado por um amigo, assim virando o jogo e batendo no outro até fazê-lo cair no chão. Algumas pessoas tentaram ajudar o operário e o colocaram dentro do ônibus para escondê-lo do de bermuda enquanto ia buscar alguma arma para matá-lo. E foi aí que eu cheguei.
Depois de toda a confusão, motorista, cobrador, acusados, vítima e policias foram até a DP da Rua Catão para fazer o Boletim de Ocorrência.
Enquanto voltava pra casa, fiquei pensando nos quatro filhos desse rapaz. Eu imagino a criação que essas crianças tiveram, o ambiente em que foram criados e quem serão no futuro. Pra mim, a base da conduta e formação de um cidadão está na família. Nem sempre pessoas que têm em casa pais indisciplinadas ou viciados em algum tipo de droga tornar-se-ão como os pais, mas a chance é muito maior. Espero que esse homem se recupere, receba a pena que tem que receber e volte para casa para ser um pai e um homem de verdade e respeito.
E assim foi.
Eu estava chegando ao ponto de ônibus no bairro da Lapa e percebi que a praça onde param os coletivos estava vazia e as poucas pessoas que se encontravam ali pareciam bem apreensivas.
Enquanto estava sentado no banco esperando o motorista chegar pra seguirmos viajem, apareceu um homem sem camisa, de bermuda vermelha, cabelo bagunçado, com os cotovelos sangrando, encarando todos que estavam na fila.
O motorista chegou para acalmá-lo, pois o cidadão estava bem agitado. Este se sentiu ameaçado e correu atrás daquele com um abridor de coco nas mãos, rua a fora. Foi aí que a minha aventura começou naquela noite de sábado.
Eu fiquei assustadíssimo; não estava entendendo nada. Pessoas gritavam, algumas mulheres choravam; ninguém tinha o que fazer.
- Liga pra polícia, pelo amor de Deus. Gritava uma senhora de bolsa preta e cabelo pixaim. O homem hostil não conseguiu pegar o motorista e voltou para a praça.
Pessoas corriam pra todos os lados para fugir dele e eu não fiz diferente. Enfiei-me dentro do ônibus junto com um rapaz de jeito afeminado que gritava de medo e tentei fechar a porta, mas a maldita não fechou.
Eu ainda, sem entender nada, fiquei olhando de dentro toda a movimentação dos populares que morriam de pavor com toda fúria daquele rapaz.
Ele veio em direção à porta do ônibus e me olhou nos olhos, fiz o mesmo e percebi que estava chorando e com o olho machucado, não parecia que queria me atacar.
Ainda olhando pra mim, desabafou com as seguintes palavras: - Eu tenho quatro filhos que passam fome. Eu trabalhei o dia inteiro pra aquele f.d.p. vim me desrespeitar desse jeito. Cadê ele? Cadê ele? Eu vou matar esse cara. E correu para a praça.
Eu olhei para o fundo do coletivo e percebi que tinha um homem deitado no chão que parecia se esconder; não se movimentava. Além disso, vi que dois vidros estavam quebrados. Logo imaginei que ocorrera uma briga antes de eu chegar ali.
Algumas pessoas que o conheciam tentavam acalma-lo, mas o homem não largava o abridor. Enquanto isso, quase todos tentavam ligar para a polícia, mas não passavam da mensagem automática. Poucos minutos depois chegou uma viatura com dois policiais e o motorista que fugira a pouco do maluco.
Os homens apontaram suas armar em direção ao individuo, mas ele não se entregou. Foram chegando mais perto e um deles descarregou um chute na barriga e o cujo caiu. Algemaram-no e o colocaram na viatura com sopapos na nuca.
Eu fui até um dos policias e avisei que havia um homem deitado no ônibus, imóvel. Quando entrou, dirigiu-se em direção da vítima e o acordou, pois este estava desmaiado. O homem levantou. Era um senhor, aparentava uns 41 anos. Era mal cuidado, usava uma roupa bem simples e uma bota de operário. Fiquei com dó. Ainda atordoado, perguntou para o policial onde estava a sacola dele. Depois apareceram com ela; tinha apenas umas mudas de roupa e um pedaço de papelão velho.
Enquanto isso, nos arredores da viatura, um senhor que se dizia amigo do baderneiro que já estava na “gaiola”, tentava tirar o rapaz dizendo que ele era inocente. O policial perdeu a calma, pôs as algemas nele e colocou-o para fazer companhia ao seu amigo.
Quando tudo se acalmou, perguntei para a senhora de bolsa preta o que acontecera antes da minha chegada. Ela disse que tudo começou quando os dois estavam no bar bebendo cachaça e num dado momento começaram a discutir. A briga foi se acentuando e foram aos trancos e barrancos (literalmente, pois estavam bêbados) até o ponto na praça dando porrada um no outro. O homem que estava caio dentro do ônibus estava batendo no louco de bermuda vermelha até que este foi ajudado por um amigo, assim virando o jogo e batendo no outro até fazê-lo cair no chão. Algumas pessoas tentaram ajudar o operário e o colocaram dentro do ônibus para escondê-lo do de bermuda enquanto ia buscar alguma arma para matá-lo. E foi aí que eu cheguei.
Depois de toda a confusão, motorista, cobrador, acusados, vítima e policias foram até a DP da Rua Catão para fazer o Boletim de Ocorrência.
Enquanto voltava pra casa, fiquei pensando nos quatro filhos desse rapaz. Eu imagino a criação que essas crianças tiveram, o ambiente em que foram criados e quem serão no futuro. Pra mim, a base da conduta e formação de um cidadão está na família. Nem sempre pessoas que têm em casa pais indisciplinadas ou viciados em algum tipo de droga tornar-se-ão como os pais, mas a chance é muito maior. Espero que esse homem se recupere, receba a pena que tem que receber e volte para casa para ser um pai e um homem de verdade e respeito.
E assim foi.
sábado, 23 de fevereiro de 2008
Agora é "Créu"
Além da cervejinha, da mulherada e da caipirinha, os verões no nosso país são banhados de hits musicais, que são o assunto principal desse comentário. Músicas como: “Poeira” (Ivete Sangalo), “Vai Lacraia” (Mc Serginho e seu(a), como preferirem, bailarina(o) Lacraia), “Se ela dança. Eu danço” (Mc Leozinho), e outra infinidade de estrofes musicadas, agitaram e, em alguns casos, ainda agitam a alta estação e as praias brasileiras.
Nesse ano, o hit que está se destacando é a “Dança do Créu” (Mc Colibri), ou seja, mais uma merda bombando nas rádios do país. Uma letra de dar inveja a qualquer fã da banda Calypso e uma melodia que faz James Brown revirar-se no túmulo ao saber que isso é chamado de Funk, compõem a canção (se é que possamos chamá-la assim). Ela tem três ou quatro fases cujo refrão restringe-se ao termo “Créu” que aumenta a velocidade conforme as fases vão passando; além disso, o rebolado das bailarinas (bem corpudas, pra não dizer outra coisa) vai se intensificando no decorrer das batidas que aumentam gradualmente.
Toda essa implicação com o “Créu” começou quando eu estava no banquinho da Junta Militar esperando o meu nome ser chamado para apresentar-me na salinha do juramento à Bandeira, e um cidadão que estava sentado ao meu lado escutou (a todo volume) essa música infeliz, cinco incessantes vezes, sem intervalo – um verdadeiro massacre sonoro. O mais engraçado é que, enquanto a “bendita” tocava, eu estava lendo um artigo do Valor Econômico que falava sobre os cinqüenta anos da nossa, brasileiríssima, Bossa Nova. Durante o texto, o produtor e historiador Zuza Homem de Mello citou uma frase que se encaixava muito bem com o que sentia naquele momento: “Bossa Nova em 2008 é ótimo para quem não agüenta essa ‘bobajada’ ouvida na maioria das emissoras, que, além de nos conduzir aos confins de um inferno sonoro, ilude grande parte da nossa juventude levando-a a acreditar ser essa a única música brasileira”. BINGO!! Fazia tempo que eu procurava uma oração que resumisse em poucas linhas e em apenas três vírgulas a minha opinião sobre as músicas “brasileiras” que fazem sucesso no Brasil hoje, e, quiçá... - No Brasil mesmo.
Eu até já me aventurei em escrever alguns versos e musicá-los com cinco ou seis notas, mas vi que não sou muito bom nisso e logo desencanei. Mesmo assim, ainda cheguei a tocar algumas delas com a minha antiga banda de Hard Core, mas hoje em dia não consigo mais, elas são muito mal feitas, carentes de sentido; de todo jeito eu ainda gosto delas porque marcam um momento da minha vida, sem contar que o fato de eu corrigi-las hoje, significa que eu evoluí nesse sentido. Bem que algumas bandas poderiam pensar o mesmo que eu, né? Por exemplo, as letras do Nx Zero não se diferenciam nenhum pouco das que eu fazia quando tinha dezesseis anos de idade, nadinha. Mas os caras são bonitinhos, isso é o que importa.
O som feito hoje (dos que fazem sucesso) não passa nenhuma mensagem que possa acrescentar alguma coisa para nós, que não seja para completar o nick-name das menininhas apaixonadas. Você discorda disso? Então compare uma letra do Chico Buarque nos tempos da ditadura que misturam política e amor sem perder o sentido (músicas feitas com a cabeça), e uma do grupo Revelação (músicas feitas com a bunda) que é pura dor de corno e contentamento, que irão ver a diferença.
Mesmo com todo esse cocô que temos de sobra tocando nas rádios por todo o país, têm bandas boas se destacando na internet que são bem criativas. Muitas delas misturam música eletrônica, jazz, blues e muitos outros estilos com MPB (samba e Bossa Nova); essa pode ser uma boa alternativa para inovar sem se esquecer do que é nosso de fato. Bandas como o Mombojó (PE), Móveis Coloniais de Acaju (DF) e o próprio Los Hermanos (RJ), podem ser incluídas nesse grupo. Além deles, cantoras como a Céu, Mariana Aydar e Roberta Sá conseguiram agregar as raízes da música brasileira juntando outras influências mais modernas. Vale a pena conferir.
Bom, essa é minha dica pra vocês. Porra, precisamos resgatar a nossa cultura. Se nós, jovens, não darmos valor ao que foi feito aqui, nossos filhos nunca darão. Sendo assim, onde irá parar a nossa identidade cultural? No “Créu”?
Nesse ano, o hit que está se destacando é a “Dança do Créu” (Mc Colibri), ou seja, mais uma merda bombando nas rádios do país. Uma letra de dar inveja a qualquer fã da banda Calypso e uma melodia que faz James Brown revirar-se no túmulo ao saber que isso é chamado de Funk, compõem a canção (se é que possamos chamá-la assim). Ela tem três ou quatro fases cujo refrão restringe-se ao termo “Créu” que aumenta a velocidade conforme as fases vão passando; além disso, o rebolado das bailarinas (bem corpudas, pra não dizer outra coisa) vai se intensificando no decorrer das batidas que aumentam gradualmente.
Toda essa implicação com o “Créu” começou quando eu estava no banquinho da Junta Militar esperando o meu nome ser chamado para apresentar-me na salinha do juramento à Bandeira, e um cidadão que estava sentado ao meu lado escutou (a todo volume) essa música infeliz, cinco incessantes vezes, sem intervalo – um verdadeiro massacre sonoro. O mais engraçado é que, enquanto a “bendita” tocava, eu estava lendo um artigo do Valor Econômico que falava sobre os cinqüenta anos da nossa, brasileiríssima, Bossa Nova. Durante o texto, o produtor e historiador Zuza Homem de Mello citou uma frase que se encaixava muito bem com o que sentia naquele momento: “Bossa Nova em 2008 é ótimo para quem não agüenta essa ‘bobajada’ ouvida na maioria das emissoras, que, além de nos conduzir aos confins de um inferno sonoro, ilude grande parte da nossa juventude levando-a a acreditar ser essa a única música brasileira”. BINGO!! Fazia tempo que eu procurava uma oração que resumisse em poucas linhas e em apenas três vírgulas a minha opinião sobre as músicas “brasileiras” que fazem sucesso no Brasil hoje, e, quiçá... - No Brasil mesmo.
Eu até já me aventurei em escrever alguns versos e musicá-los com cinco ou seis notas, mas vi que não sou muito bom nisso e logo desencanei. Mesmo assim, ainda cheguei a tocar algumas delas com a minha antiga banda de Hard Core, mas hoje em dia não consigo mais, elas são muito mal feitas, carentes de sentido; de todo jeito eu ainda gosto delas porque marcam um momento da minha vida, sem contar que o fato de eu corrigi-las hoje, significa que eu evoluí nesse sentido. Bem que algumas bandas poderiam pensar o mesmo que eu, né? Por exemplo, as letras do Nx Zero não se diferenciam nenhum pouco das que eu fazia quando tinha dezesseis anos de idade, nadinha. Mas os caras são bonitinhos, isso é o que importa.
O som feito hoje (dos que fazem sucesso) não passa nenhuma mensagem que possa acrescentar alguma coisa para nós, que não seja para completar o nick-name das menininhas apaixonadas. Você discorda disso? Então compare uma letra do Chico Buarque nos tempos da ditadura que misturam política e amor sem perder o sentido (músicas feitas com a cabeça), e uma do grupo Revelação (músicas feitas com a bunda) que é pura dor de corno e contentamento, que irão ver a diferença.
Mesmo com todo esse cocô que temos de sobra tocando nas rádios por todo o país, têm bandas boas se destacando na internet que são bem criativas. Muitas delas misturam música eletrônica, jazz, blues e muitos outros estilos com MPB (samba e Bossa Nova); essa pode ser uma boa alternativa para inovar sem se esquecer do que é nosso de fato. Bandas como o Mombojó (PE), Móveis Coloniais de Acaju (DF) e o próprio Los Hermanos (RJ), podem ser incluídas nesse grupo. Além deles, cantoras como a Céu, Mariana Aydar e Roberta Sá conseguiram agregar as raízes da música brasileira juntando outras influências mais modernas. Vale a pena conferir.
Bom, essa é minha dica pra vocês. Porra, precisamos resgatar a nossa cultura. Se nós, jovens, não darmos valor ao que foi feito aqui, nossos filhos nunca darão. Sendo assim, onde irá parar a nossa identidade cultural? No “Créu”?
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