quarta-feira, 10 de junho de 2009

na sé

O sentido Jabaquara já dava alguns sinais de vida, quando uma senhora nipônica de cabelos grisalhos e roupa simples instalou-se atrás de mim, que estava com pé-e-meio encima da faixa amarela.

Vendo a sua situação, com cordialidade, dei um passo atrás para que ela passasse à minha frente. Enquanto fazia este movimento, ela tomando o meu ex-lugar, olhei bem rápido para o seu rosto e ganhei, assim, de presente, um sorriso maior que todos os vagões juntos; o que me deixou muitíssimo feliz e com um bem-estar tão grande a ponto de deixar qualquer escoteiro com inveja.

Em poucos segundos a locomotiva quase toda já passava pela boca do túnel, tomando por completo o corredor de parada. Neste meio tempo a senhora mexeu e remexeu a sua bolsa preta à procura de coisa qualquer. Logo, como num espanto, ela, agora com um sorriso comparado ao de um transatlântico, virou para mim retirando as mãos da bolsa com um punhado de balas; olhou nos meus olhos e pediu carinhosamente para que eu estendesse as minhas. Hesitei como quem não quisesse, mas logo cedi e entreguei-me ao agrado.

Agradeci.

Entramos, coloquei as balas na bolsa, sentei um tanto longe. Olhei para onde ela tinha repousado e lá estava: vidrada num anúncio de plano dentário com aquele mesmo ar da passagem e de balas doces. Fiquei contentíssimo quando me dei conta que aquele simples gesto ajudou a lapidar com um lindo sorriso um rosto humilde, cansado das pernas e dos desrespeitos.

E as balas estavam ótimas.