domingo, 17 de agosto de 2008

O Psicográfico

Sim.
As pessoas enjoam-se da outras.
Se tu fizeres aquele feliz, ele será feliz.
Se fores sensato, a recíproca será verdadeira.
Caso contrário, e assim não ocorrendo: cada um pro seu lado e boa.
Boa sorte.

Não.
Nem sempre é assim.
Na verdade é assim quando não há amor.
Quando os sorrisos não duram mais que um segundo.
Um sorriso. É isso: faltava um sorriso.

Bem.
Esse texto não quer ser escrito, mas a psicografia toma conta do resto.

Um dia de sábado como qualquer outro; a diferença dos demais era que acabara de romper um relacionamento afetivo e de fazer uma prova de História e Química.

Foi no ônibus.

Ele estava bebaço.
Era engraçado no começo. Disse que só havia tomado uma.
Sim, ele só havia tomado uma: garrafa de pinga.
Eu sempre rio dos bêbados; o álcool parece que dá às pessoas uma pitada de Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo.

Ele me perguntou se usava drogas.
- Não, senhor. E nunca hei de usar. Respondi.

- Tens amigos que usam? Retrucou.
- Sim. Uma porção; mas a primeira vez que me ofereceram disse que não o fizessem novamente.

As lágrimas foram muitas. Tomaram conta dele e de mim.
Apesar de não entender o porquê, confesso que meus olhos umedeceram.

Disse-me que tinha um filho de quinze anos que se encontra internado numa clínica para reabilitação de usuários de droga.
Chorava, indagava por qual motivo o garoto poderia causar-lhe tanta vergonha, como aquele menino poderia traí-lo dessa forma.

Foi uma tristeza muito grande que tomou meu coração.
Eu chorei muito por dentro. Chorei mesmo.

Disse o que pude.
Disse pra ele não beber.
Não seria exemplo pro garoto que ele chegasse alcoolizado em casa.

Agradeceu-me como pôde.
Fiquei muito grato por isso.
Chegou o ponto em que eu deveria descer.

- Vá com Deus senhor. Desejo-lhe sorte com seu filho; dará tudo certo.

Quando eu estava no banho. (o banho sempre me arranca boas idéias)
Lembrei que ele me dissera que mesmo assim nunca iria abandonar o filho.
Aqueles eram os olhos dele, a cor dele, o sorriso dele.
Era como se abandonasse a si mesmo.

Um amor tão grande tomou meu coração.
Senti uma vontade enorme de amar naquele instante.

Dei-me um abraço muito forte.
Aproveitei e cocei minhas costas.
Só não me vi no “box” porque o vapor ofuscara minha imagem.

Tive vontade de olhar para mim.
Passei a mão no vidro e consegui ver meu rosto.
Olha lá: eram meus olhos, a minha cor, o meu riso.
Não havia sorriso. Só riso.

Aquele homem me deu um pouquinho de esperança.

Nós não podemos nos abandonar.
São nossos olhos, somos nós.
São as nossas emoções.

São os nossos corações.

6 comentários:

Layla disse...

Não havia sorriso. Só riso.

Raquel Luanda disse...

lindo texto.. sério fiquei emocionada!
"não podemos nos abandonar"
adorei a forma que desenvolve o texto como se mudasse de assunto, mas no fim, percebe-se que fala da mesma coisa!

te dou o meu abraço, sem coçadinha nas costas!

min disse...

"Sonrisal"!Lembrou-me a música do Móveis =D (que eu não lembro o nome agora, mas enfim...)

Quanto ao sábado, como diria o Gildo em francês: c'est la vie!(não que ele diga isso, mas
ele fala às vezes em francês e lembrei dele)

Traduzindo...

É a vida, cabe a nós aproveitar cada minuto com intensidade e quem sabe um dia sentir saudades, pois como foi dito na aula do Héric, só sentimos saudades do que é bom e do que nos faz sentir bem!

Fiquei emociada com o senhor do ônibus, não deve ser nada fácil ver um filho definhar por causa das drogas! =S Nada fácil!

Espero que seu conselho tenha o animado um pouco, dado mais esperança e força pra seguir em frente!

O que você disse é muito verdade, "não podemos nos abandonar", nunca! Mesmo que passemos por inúmeros
obstáculos, pelo menos a nós não podemos abandonar!

Parabéns pelo texto Fá, ficou ótimo!

=*

Anônimo disse...

Entrei sem compromissos.
Pretendia ler apenas os títulos e dar uma bisbilhotadinha breve
,afinal são nove e meia da noite e estou exausta por ter estudado desde as 13:00.
Mas sou fácil. Não resisto à boas palavras.E li tudo.A página inteira; como quem pega o primeiro bolinho de chuva com a convicção de satisfazer-se com um único e acaba por comer todos ,até o restinho do açucar e da canela.

Mudando de assunto...
De onde vem a calma?

Marcella Klimuk disse...

as vezes só entendemos certas coisas após fatos realmente estranhamente surreais.
são esses acontecimentos que têm muito valor.


'Nós não podemos nos abandonar.
São nossos olhos, somos nós.
São as nossas emoções.'

versos dignos de entrarem para minha coleção de bons versos.

(arrumei o link do seu blog ok?)

Marcella Klimuk disse...

as vezes só entendemos certas coisas após fatos realmente estranhamente surreais.
são esses acontecimentos que têm muito valor.


'Nós não podemos nos abandonar.
São nossos olhos, somos nós.
São as nossas emoções.'

versos dignos de entrarem para minha coleção de bons versos.

(arrumei o link do seu blog ok?)