terça-feira, 5 de outubro de 2010

geometria analítica, parâmetros, coeficiente angular e equações não cabiam em mim naquele instante.
eu sentia minha alma pedir por liberdade... a sala me prendia, me comprimia.
então saí no meio da aula.

quando cheguei ao pátio aberto, olhei para o céu e me deparei com uma porção de estrelas, umas cadentes outras nem tanto.
porém, todas me saudavam com a seguinte frase: "ei, você. já se deu conta de que és um ser cheio vida? já se deu conta que existe todo um mundo magnífico à sua volta?".
era isso que eu precisava ouvir.

aquela abstração matemática nada tinha a me adicionar humanamente. os números não têm vida.
de que adianta saber se um vetor tende ao infinito ou se a derivada de uma equação é nula, sendo que eu nem sei da onde eu vim?
estamos tão automatizados, tão na inércia dos fatos que nem sequer temos as informações básicas da nossa existência.

esses dias eu terminei um livro que se chama "O Dia do Coringa" (Jostein Gaarder) que, entre outras coisas, tocava exatamente nesse ponto.
nós acordamos, tomamos café, nos vestimos, abrimos a porta da casa e caímos no mundo sem, muitas vezes, refletirmos sobre os nossos movimentos.

só de imaginar que, enquanto eu escrevo, milhões de células dentro de mim estão trabalhando pra me manter vivo, que milhares de alvéolos estão trocando oxigênio e
gás carbônico com o sangue, e aquela substância parte pelo meu corpo para me nutrir de vida.
você que está lendo agora. pare um momento e tente sentir o cristalino do seu olho funcionando como uma lente que direciona a luz oriunda dessas letras projetando-as
na retina aonde a imagem será formada. bingo! você está lendo. mas não é só isso. seu cérebro está trabalhando e gastando parte da energia do seu corpo para entender
este código e esta porção agrupada de letras que dão um sentido e um entendimento pra você. isso não é incrível?!

eu poderia ficar aqui a vida inteira enumerando diversas ações provenientes do nosso corpo que acontecem espontaneamente, mas esse não é o foco desse texto. a minha
intenção é compartilhar com você, caro amigo, esse sentimento que tem alimentado a vida ultimamente. pare em alguns momentos do seu dia e sinta o mundo tocar seu corpo,
aproxime-se do seu íntimo, sorria para os outros seres tão magníficos quanto você, dê um abraço nas pessoas que têm amor.

eu me sinto muito só aqui onde estou agora. careço dos abraços das pessoas que eu amo tanto e que deixei na minha terra, mas aí eu improviso: abraço o travesseiro
ou o meu violão e projeto neles todo o amor que há dentro de mim. aí eu me liberto, pego a minha flauta e vou tocar para as estrelas, pros passarinhos, para as formigas
que têm invadido a cozinha ultimamente.

estive um tempo longe de mim, vivendo por viver, sofrendo á toa. mas aí eu busquei nos cantos da minha alma os significados de tudo que sou, encontrei o mais simples de
mim, o mais vivo que eu possuo. encontrei o melhor de mim. talvez se eu tivesse aberto uma equação existencial eu não teria encontrado a solução, mas eu abri o meu coração, abri os poros do meu ser.

agora eu vou dançar lá fora um samba desajeitado, sem ritmo, porém, cheio de alegria.
a vassoura pode até me acompanhar se quiser, afinal ela também merece. imagina se fosse você o indivíduo que tudo mundo aperta, passa a mão e enche de sujeira?
sim, a vassoura merece muito respeito. então será ela mesma que vai dançar esse samba comigo.

ah, e se a vassoura não quiser dançar eu danço sozinho. se for o caso eu "bambo e só, mas sambo sim!"

bendita seja a vida!!

Um comentário:

Natália disse...

Que maravihoso! Maravilhoso!
o clima gaarderiano te envadiu e você conseguiu mostrar perfeitamente! Eu amei, fá! parabéns, lindo.