sábado, 24 de maio de 2008

Ser ou não ser? Eis a questão.

Andar pelas proximidades da Avenida Paulista às vésperas da Parada Gay é uma oportunidade ímpar. Por alguns instantes eu me senti na “Gaylândia”. A Rua Frei Caneca (mundialmente conhecida como Gay Caneca; tadinho do Frei) parecia a Village People Avenue. Não que eu seja simpatizante da causa, tampouco preconceituoso em relação a ela (logo entenderão porque), mas eu achei as coisas que vi hoje dignas de merecerem um texto.

Eram casais de homens que andavam pela rua de mãos dadas e trocando carícias, casais femininos que se beijavam; todos sem nenhuma preocupação, com ar de quem não deve nada a ninguém (não devem mesmo) e de quem não está nem aí com o que os outros pensam. Aliás, reparei também os outros: senhoras e senhores de idade com aquelas pomposas e enrugadas caras de “meu Deus, mais que absurdo” ou “onde esse mundo irá chegar?”. Diverti-me muito com isso.

A cena que mais me chamou atenção foi um cidadão cujo traje restringia-se a uma sunga-fio-dental-rosa que fazia flexões de braço no meio da calçada, enquanto seu companheiro lhe passava óleo nas costas e batia na sua bunda com uma raquete de frescobol (hahahahahaha). Calma! Antes que você pense que isso é verdade e acabe concordando com os velhinhos que não sabem onde esse mundo irá chegar, eu vos digo, caro leitor, toda essa cena é mentira. Mas pensando bem, seria muito engraçada de ser vista.

Eu acho legal comentar esse tipo de assunto, porque, pasme: mesmo com toda essa minha macheza à flor da pele e essa inigualável masculinidade, tem gente que acha que eu sou boiola. Sério Mesmo. Desde a primeira vez que um amigo meu (Vandré) disse que antes de me conhecer jurava de pés juntos que eu era uma bichona, eu fiquei com isso na cabeça. Vira-e-mexe eu me pego a reparar as minhas atitudes com a intenção de achar algo que me comprometa ou que confira a mim um toque de viadagem.



Nessa busca incessante por características que, eventualmente, poderiam comprometer a minha masculinidade, eu achei as seguintes: eu tenho muitas amigas mulheres (fato); eu reparo a maquiagem, o cabelo e as roupas das garotas (sou apenas um mero observador); eu sento com as pernas cruzadas (eu não tenho as bolas tão grandes a ponto de impedir tal movimento); e, por final: eu choro (e homem chora, nem vem com história).

Engraçado. Quando eu estava procurando algumas idéias pra escrever sobre assunto, lembrei-me de uma coisa que aconteceu comigo essa semana.
Peguei o ônibus pra ir pra casa e, por coincidência, um amigo de um amigo meu (Guilherme Campbell, que eu conheci a pouco e que é muito gente fina) entrou com a sua namorada no coletivo. Ele faz o mesmo cursinho que eu, com a diferença que ele estuda em outra unidade. Enfim, conversávamos sobre as matérias, simulados e professores do cursinho; aquele papo de vestibulando maluco.

Nessa conversa ele me falou que ela era uma “porta” em humanas, mas era muito bom em exatas. E como eu sou um humanórdico, comecei a dizer a eles os benefícios e os prazeres que a História, Geografia e Literatura proporcionam; falei também os motivos que me fazem gostar de Música Popular Brasileira, a genialidade dos artistas e tudo mais, quando ele me interrompe com a seguinte pergunta: - VOCÊ É GAY? Eu, como já estou acostumado com esse tipo de coisa, fui cauteloso e expliquei a ele que gostar de música, letras e poesias não significa ser viado, mas sim um apreciador das coisas pequenas e irrisórias.

Isso tudo não foi uma tentativa de falar pra vocês se eu sou uma frutinha ou não, de fato não sou. Quem me conhece sabe disso. Mas, meu amigo, se você ainda não consegue respeitar a opção sexual das pessoas, desculpe-me, você ainda está nos tempos antes de Cristo. E outra, quem sabe, você ainda terá filhos, sobrinhos, etc. Pense nisso.

Passar bem.

obs: só uma outra coisa rápida, meu blog fez agora (dia 17) um ano de idade, parabéns pra ele.

domingo, 11 de maio de 2008

Dia das Mães

Quando eu ando um pouco sensibilizado com algo, sei lá, seja algum desentendimento em casa, por alguma nota baixa no simulado ou por algum amor não correspondido, eu me emociono por qualquer coisa.

Essas semanas que agregaram os últimos dias de abril e os primeiros de maio ocorreu (e ainda ocorre) o que eu costumo chamar de amplitude térmica amorosa. Em outras palavras, o fato é que em poucos dias eu me apeguei muito a uma garota, sendo, nos primeiros, a recíproca verdadeira; mas acontece que nos últimos as coisas têm mudado bastante. Resumindo: ela sumiu (como sempre acontece) e quando aparece “seus olhos não brilham mais”. Mas acho melhor já ir me acostumando com isso, pois pelo que parece, isso não irá mudar.

Juntando esse pranto silencioso ao desespero de um vestibulando, eu tenho passado esses dias muito mal e melancólico, escutando músicas com melodias tristes e letras mais ainda. De todo jeito eu tento disfarçar com um sorriso todo esse sentimento que costuma nos pôr pra baixo. Mas enfim...



Hoje de manhã, quando voltava da casa de um amigão meu, depois de ter dormido lá porque ocorrera seu aniversário no dia anterior, peguei o trem na estação do Jaraguá sentido Luz. Pensava em chegar logo em casa pra abraçar a dona Neuma e desejá-la um feliz dia das mães e pegar o meu celular (que tinha esquecido) pra ver se não tinha nenhuma mensagem do Líbano.

Pois bem, enquanto a “lata de sardinha” oferecida pelo nosso querido Estado que se preocupa muito com o bem-estar do povão que mora nas sub-periferias da cidade de São Paulo deslizava pelos trilhos, passou um rapaz que aparentava ter uns vinte anos de idade; sem uma das pernas e a outra defeituosa. Estava sendo empurrado numa cadeira de rodas pelo vagão a fora por outro cara e entregava pedaços de papel que, escrito neles, palavras pediam uma contribuição de dez centavos. Peguei um deles,o li, abri minha carteira e apanhei algumas moedas.

Junto a mim, um senhor bem acabado, mal vestido, com uma cara sofrida e surrada pela vida, também separou algumas moedas, e bem graúdas por sinal. Na volta, o pedinte passou recolhendo as contribuições. Tomou a minha, agradeceu-me e foi de encontro ao senhor citado. Este abriu um sorriso àquele e deu o dinheiro com o peito cheio de ar e alegria. Eu, vendo aquilo, não agüentei a emoção e comecei a chorar baixinho, só pra mim, dando, portanto, sentido às minhas palavras do primeiro parágrafo desse texto.

Refleti uns segundos. Achei aquilo tão lindo, grandioso, magnífico e honroso que eu quase levantei e fui dar um abraço naquele homem. Pensei logo nas pessoas que são culpadas pelo caos social no nosso país, que jorram moedas e dólares pelos orifícios dos seus corpos e que não teriam a bondade e compreensão que teve esse senhor. Tenho quase certeza que esse dinheiro ia fazer falta a ele, mas iria fazer muito bem ao rapaz da cadeira de rodas, e ele pensou nisso. Disso tudo eu cheguei à conclusão que agente precisa ter um pouco mais de amor e compaixão pelas pessoas, sermos menos individualistas e pararmos de tratar as pessoas como se elas fossem descartáveis.

Após o ocorrido, parei de ler as crônicas libanesas, apanhei minha lapiseira 0.7, minha borracha suja e comecei a escrever esse texto. Desci na estação de Osasco com ele semi-pronto, esperei alguns minutos o Bigode chegar. Concluí mais algumas coisas no carro. Chegando em casa, fui ao vizinho, apanhei algumas flores, depois fui até à mamãe, entreguei-lhe as flores, dei um abração carinhoso, choroso e agradecido por tudo. Corri direto pro quarto, peguei o celular: não tinha nenhuma mensagem. Senti-me um pedinte que não recebe esmolas. Terminei o texto, terminou o meu dia.

Frase do dia: “O amor não prospera em corações que se amedrontam com as sombras.” (William Shakespeare)