sábado, 23 de fevereiro de 2008

Agora é "Créu"

Além da cervejinha, da mulherada e da caipirinha, os verões no nosso país são banhados de hits musicais, que são o assunto principal desse comentário. Músicas como: “Poeira” (Ivete Sangalo), “Vai Lacraia” (Mc Serginho e seu(a), como preferirem, bailarina(o) Lacraia), “Se ela dança. Eu danço” (Mc Leozinho), e outra infinidade de estrofes musicadas, agitaram e, em alguns casos, ainda agitam a alta estação e as praias brasileiras.

Nesse ano, o hit que está se destacando é a “Dança do Créu” (Mc Colibri), ou seja, mais uma merda bombando nas rádios do país. Uma letra de dar inveja a qualquer fã da banda Calypso e uma melodia que faz James Brown revirar-se no túmulo ao saber que isso é chamado de Funk, compõem a canção (se é que possamos chamá-la assim). Ela tem três ou quatro fases cujo refrão restringe-se ao termo “Créu” que aumenta a velocidade conforme as fases vão passando; além disso, o rebolado das bailarinas (bem corpudas, pra não dizer outra coisa) vai se intensificando no decorrer das batidas que aumentam gradualmente.

Toda essa implicação com o “Créu” começou quando eu estava no banquinho da Junta Militar esperando o meu nome ser chamado para apresentar-me na salinha do juramento à Bandeira, e um cidadão que estava sentado ao meu lado escutou (a todo volume) essa música infeliz, cinco incessantes vezes, sem intervalo – um verdadeiro massacre sonoro. O mais engraçado é que, enquanto a “bendita” tocava, eu estava lendo um artigo do Valor Econômico que falava sobre os cinqüenta anos da nossa, brasileiríssima, Bossa Nova. Durante o texto, o produtor e historiador Zuza Homem de Mello citou uma frase que se encaixava muito bem com o que sentia naquele momento: “Bossa Nova em 2008 é ótimo para quem não agüenta essa ‘bobajada’ ouvida na maioria das emissoras, que, além de nos conduzir aos confins de um inferno sonoro, ilude grande parte da nossa juventude levando-a a acreditar ser essa a única música brasileira”. BINGO!! Fazia tempo que eu procurava uma oração que resumisse em poucas linhas e em apenas três vírgulas a minha opinião sobre as músicas “brasileiras” que fazem sucesso no Brasil hoje, e, quiçá... - No Brasil mesmo.

Eu até já me aventurei em escrever alguns versos e musicá-los com cinco ou seis notas, mas vi que não sou muito bom nisso e logo desencanei. Mesmo assim, ainda cheguei a tocar algumas delas com a minha antiga banda de Hard Core, mas hoje em dia não consigo mais, elas são muito mal feitas, carentes de sentido; de todo jeito eu ainda gosto delas porque marcam um momento da minha vida, sem contar que o fato de eu corrigi-las hoje, significa que eu evoluí nesse sentido. Bem que algumas bandas poderiam pensar o mesmo que eu, né? Por exemplo, as letras do Nx Zero não se diferenciam nenhum pouco das que eu fazia quando tinha dezesseis anos de idade, nadinha. Mas os caras são bonitinhos, isso é o que importa.

O som feito hoje (dos que fazem sucesso) não passa nenhuma mensagem que possa acrescentar alguma coisa para nós, que não seja para completar o nick-name das menininhas apaixonadas. Você discorda disso? Então compare uma letra do Chico Buarque nos tempos da ditadura que misturam política e amor sem perder o sentido (músicas feitas com a cabeça), e uma do grupo Revelação (músicas feitas com a bunda) que é pura dor de corno e contentamento, que irão ver a diferença.

Mesmo com todo esse cocô que temos de sobra tocando nas rádios por todo o país, têm bandas boas se destacando na internet que são bem criativas. Muitas delas misturam música eletrônica, jazz, blues e muitos outros estilos com MPB (samba e Bossa Nova); essa pode ser uma boa alternativa para inovar sem se esquecer do que é nosso de fato. Bandas como o Mombojó (PE), Móveis Coloniais de Acaju (DF) e o próprio Los Hermanos (RJ), podem ser incluídas nesse grupo. Além deles, cantoras como a Céu, Mariana Aydar e Roberta Sá conseguiram agregar as raízes da música brasileira juntando outras influências mais modernas. Vale a pena conferir.

Bom, essa é minha dica pra vocês. Porra, precisamos resgatar a nossa cultura. Se nós, jovens, não darmos valor ao que foi feito aqui, nossos filhos nunca darão. Sendo assim, onde irá parar a nossa identidade cultural? No “Créu”?