Era mais ou menos nove e meia da noite do dia primeiro de março.
Eu estava chegando ao ponto de ônibus no bairro da Lapa e percebi que a praça onde param os coletivos estava vazia e as poucas pessoas que se encontravam ali pareciam bem apreensivas.
Enquanto estava sentado no banco esperando o motorista chegar pra seguirmos viajem, apareceu um homem sem camisa, de bermuda vermelha, cabelo bagunçado, com os cotovelos sangrando, encarando todos que estavam na fila.
O motorista chegou para acalmá-lo, pois o cidadão estava bem agitado. Este se sentiu ameaçado e correu atrás daquele com um abridor de coco nas mãos, rua a fora. Foi aí que a minha aventura começou naquela noite de sábado.
Eu fiquei assustadíssimo; não estava entendendo nada. Pessoas gritavam, algumas mulheres choravam; ninguém tinha o que fazer.
- Liga pra polícia, pelo amor de Deus. Gritava uma senhora de bolsa preta e cabelo pixaim. O homem hostil não conseguiu pegar o motorista e voltou para a praça.
Pessoas corriam pra todos os lados para fugir dele e eu não fiz diferente. Enfiei-me dentro do ônibus junto com um rapaz de jeito afeminado que gritava de medo e tentei fechar a porta, mas a maldita não fechou.
Eu ainda, sem entender nada, fiquei olhando de dentro toda a movimentação dos populares que morriam de pavor com toda fúria daquele rapaz.
Ele veio em direção à porta do ônibus e me olhou nos olhos, fiz o mesmo e percebi que estava chorando e com o olho machucado, não parecia que queria me atacar.
Ainda olhando pra mim, desabafou com as seguintes palavras: - Eu tenho quatro filhos que passam fome. Eu trabalhei o dia inteiro pra aquele f.d.p. vim me desrespeitar desse jeito. Cadê ele? Cadê ele? Eu vou matar esse cara. E correu para a praça.
Eu olhei para o fundo do coletivo e percebi que tinha um homem deitado no chão que parecia se esconder; não se movimentava. Além disso, vi que dois vidros estavam quebrados. Logo imaginei que ocorrera uma briga antes de eu chegar ali.
Algumas pessoas que o conheciam tentavam acalma-lo, mas o homem não largava o abridor. Enquanto isso, quase todos tentavam ligar para a polícia, mas não passavam da mensagem automática. Poucos minutos depois chegou uma viatura com dois policiais e o motorista que fugira a pouco do maluco.
Os homens apontaram suas armar em direção ao individuo, mas ele não se entregou. Foram chegando mais perto e um deles descarregou um chute na barriga e o cujo caiu. Algemaram-no e o colocaram na viatura com sopapos na nuca.
Eu fui até um dos policias e avisei que havia um homem deitado no ônibus, imóvel. Quando entrou, dirigiu-se em direção da vítima e o acordou, pois este estava desmaiado. O homem levantou. Era um senhor, aparentava uns 41 anos. Era mal cuidado, usava uma roupa bem simples e uma bota de operário. Fiquei com dó. Ainda atordoado, perguntou para o policial onde estava a sacola dele. Depois apareceram com ela; tinha apenas umas mudas de roupa e um pedaço de papelão velho.
Enquanto isso, nos arredores da viatura, um senhor que se dizia amigo do baderneiro que já estava na “gaiola”, tentava tirar o rapaz dizendo que ele era inocente. O policial perdeu a calma, pôs as algemas nele e colocou-o para fazer companhia ao seu amigo.
Quando tudo se acalmou, perguntei para a senhora de bolsa preta o que acontecera antes da minha chegada. Ela disse que tudo começou quando os dois estavam no bar bebendo cachaça e num dado momento começaram a discutir. A briga foi se acentuando e foram aos trancos e barrancos (literalmente, pois estavam bêbados) até o ponto na praça dando porrada um no outro. O homem que estava caio dentro do ônibus estava batendo no louco de bermuda vermelha até que este foi ajudado por um amigo, assim virando o jogo e batendo no outro até fazê-lo cair no chão. Algumas pessoas tentaram ajudar o operário e o colocaram dentro do ônibus para escondê-lo do de bermuda enquanto ia buscar alguma arma para matá-lo. E foi aí que eu cheguei.
Depois de toda a confusão, motorista, cobrador, acusados, vítima e policias foram até a DP da Rua Catão para fazer o Boletim de Ocorrência.
Enquanto voltava pra casa, fiquei pensando nos quatro filhos desse rapaz. Eu imagino a criação que essas crianças tiveram, o ambiente em que foram criados e quem serão no futuro. Pra mim, a base da conduta e formação de um cidadão está na família. Nem sempre pessoas que têm em casa pais indisciplinadas ou viciados em algum tipo de droga tornar-se-ão como os pais, mas a chance é muito maior. Espero que esse homem se recupere, receba a pena que tem que receber e volte para casa para ser um pai e um homem de verdade e respeito.
E assim foi.
domingo, 2 de março de 2008
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4 comentários:
vc iria gostar do curso de direito então... e depois ficar frustrado quando percebesse que depois da cadeia o homem ficaria ainda pior...
QUE LOUCURAAAA VIU ...
n n meu amigo fá
gastrite n solta pum n
ai é que ta todoooooo o problema!
Então..
Eu vim pra Fortalza em fevereiro/2006, fiz um ano de cursinho e agora faço Agronomia na UFC!
BLZ?!
E que história em véi... e logo na praça da Lapa, tão bonita e às vezes ofuscada por esses acontecimentos!
Boa sorte na proxima vez!
Mano Quilitão!!!....Só na Lapa mesmo, que alguém vai tentar matar o outro com um ABRIDOR DE COCO!!...dhasuihd...somos pobres mais somos trabalhadores!!! SALVE O MANO DO COCO!!
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