Era aula de literatura com o professor Roberto Juliano. Discutíamos a segunda fase do Modernismo, mais precisamente sobre um famoso poema do escritor Carlos Drummond Andrade chamado No Meio do Caminho. Aquele que diz: “No meio do caminho havia uma pedra, havia uma pedra no caminho (...)”. Confesso que nunca parei para analisar esses versos, mas após as explicações do mestre, fui ligando os pontos e consegui concluir algumas coisas. Depois de um tempo lendo e relendo este, abriu-se um “leque de opções” para que eu pudesse viajar nesse mundo louco das palavras. Um dos meus pontos de vista foi o fato da “pedra no caminho” ser os acontecimentos marcantes do nosso dia-a-dia, eventos que dificilmente ocorrem, mas quando ocorrem, ficam guardados por toda a vida ou até quando a memória estiver por perto. Com tudo isso, lembrei-me de um fato memorável que acontecera comigo dias antes desta aula: os papagaios encima da câmera de transito na Avenida Ermano Marchetti, na Lapa.
Ainda não havia passado das sete horas da manhã e os carros já preenchiam todas as faixa da avenida com suas carruagens de plástico e seu silêncio barulhento. Enfim, sempre que vou atravessar aquela avenida, olho o céu para saber se o dia será ensolarado ou nublado; aquele dia não foi diferente. Porém, quando olhei para o alto, tive a surpresa: eram três, verdinhos e perdidos como “cego em tiroteio”; longe dos galhos e folhas que os acolhem quando mais precisam, pareciam desesperados com aqueles objetos correndo rapidamente embaixo deles, com medo das formigas gigantes desviando umas das outras pela calçada a fora e daquelas muralhas de concreto por toda parte.
Vendo aquela cena, perguntei-me: o que será que essas criaturas fazem aqui? Pensei que decerto fugiram do Jardim Zoológico ou fugiram do domínio de algum seqüestrador de animais. Ao mesmo tempo em que deu uma tristeza vê-los fora de seu habitat natural, tive um sentimento de liberdade, independência; fez-me lembrar de quando ia pra casa dos meus avós para subir na mangueira e nadar nas límpidas águas do açude do finado Chico de Matias.
Refletindo sobre essa ocorrência, vi como a urbanização é inversamente proporcional à natureza; enquanto uma cresce desordenadamente, a outra desaparece numa velocidade extraordinária. Por exemplo, a Mata Atlântica localizada na porção leste do Brasil, tem hoje 7,3% da sua vegetação original, sendo que em alguns Estados quase não existe mais devido o desmatamento que essas áreas estão sendo expostas. Isso sem contar a Floresta Amazônica, antes considerada o pulmão do mundo, que está sendo substituída por pastagens com a intenção de abrigar vacas emissoras de gás metano (CH4) e para as plantações de soja (a mais nova monocultura brasileira), que aqui entre nós, servem para alimentar o mundo inteiro, mas para os brasileiros... O RESTO! Mas isso é um assunto pra outra ocasião. Enfim, quem mais sofre com toda essa degradação são os animais nativos desses locais que são obrigados a se acostumar com os seus novos “lares” de cimento. Estão ai as explicações para o aumento aparente desses animais no nosso cotidiano; com a diminuição das áreas verdes, estes “se viram” como podem. Já bastavam as capivaras dos rios Tietê e Pinheiros (SP), os macacos equilibristas nos fios de alta tensão em Copacabana e Ipanema (RJ), agora são os papagaios da Lapa (SP).
O pior de tudo é saber que tem pouca gente se importando com isso e que esses fatores não serão revertidos tão cedo. A tendência é aumentar cada vez mais os desmatamentos, queimadas, transposições de rios, o que fará com que esses acontecimentos se tornem normais. Lamento também que só “acordaremos” depois que essa situação for irreversível. Se você puder fazer algo para mudar essa realidade, o faça, pois nossos filhos e filhas precisarão dessa nossa consciência. Agora, se você não se importa com nada disso, PREPARE-SE, o BBB 8 já esta com as inscrições abertas!
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
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4 comentários:
E ae Fabricio!
Bom esse texto provou que, além de você escrever bem, está prestando atenção nas aulas! Hahahahaha...
Você citou em cada um fazer sua parte e sobre as florestas. E tem gente que ainda me ridiculariza por ser vegetariano e acha que faz muito vendo o BBB...
Eu fico bravo falando disso mano, é melhor parar por aqui!
Belo texto cara! abraço!
Olha que texto lindo Fabricio.
Fooda mesmo, ainda mais pq eu estava nessa aula.
Uma pedra na nossas vidas pode ser tanto boa como ruins, só temos que prestar atenção pra ve-las né e não tropeçar.
Maanda esse Vandre falar dessa ideologia dele em outro lugar hdsudhusad!
Liindo texto Coisa Diferente.
Bjãão!
muito bonito seu texto mas, você não colocou a data que começam as inscrições para o BBB!!
ha ha ha !!
ficou muito bunitinhu!!! bju Fá!
O mais triste para mim é pensar como as pessoas não se importam com mais nada, como deixam a vida passar diante os olhos delas. Sab, não é um passarinho perdido na "selva de pedra", é uma vida. É a flor e a pedra do Drummond. E quem se importa?
=/
Adorei esse texto! :)
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